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Olhos voltados para o Paraguai
terça-feira, 31 de julho de 2012
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Nós brasileiros não estamos – mas deveríamos – estar com os olhos voltados para o Paraguai. A destituição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai e a consequente suspensão do país do Mercosul e da Unasul acendem o sinal amarelo para três nefastos riscos para todos os países da América Latina: o desrespeito à democracia, o enfraquecimento do Mercado Comum do Sul, o Mercosul, e a instalação de base militar norte-americana.
Sem entrar no mérito da legalidade e da licitude do processo pelo qual Lugo foi retirado do poder, o fato é que os paraguaios estão divididos quanto à atual situação política. A apatia do povo reflete o racha das instituições e das entidades, as mesmas que deveriam zelar pela democracia no país. São condições que tornam fértil o terreno para florescer regimes autoritários. Além do retrocesso no país, colocariam em risco conquistas democráticas obtidas com muito custo ao longo da história recente da América Latina.
Se a conjuntura é ruim, piora se analisarmos as consequências da suspensão do Paraguai do Mercosul. A decisão, uma represália ao país por colocar a democracia em risco, pode abrir caminho para o redesenho do mapa político da América do Sul no qual o Mercosul, enquanto bloco econômico, corre o risco de perder força e os Estados Unidos, de ganhar espaço.
Juntos, os países que formam o Mercosul têm mais peso para tomar decisões frente a políticas macroeconômicas que lhes sejam prejudiciais. Em um mundo com economia fragilizada, não é de interesse dos países hegemônicos o fortalecimento político e econômico de blocos de Estados como o Mercado Comum do Sul.
Brasil e Paraguai têm agenda de interesses comuns, entre eles a cooperação binacional para a Usina Hidrelétrica de Itaipu, a defesa dos recursos naturais, como o Aquífero Guarani e o combate ao tráfico de drogas na fronteira. São parcerias que, em função da atual situação política do Paraguai, estão incertas.
Já os Estados Unidos reconheceram imediatamente o novo governo do Paraguai. Era a situação que os americanos esperavam para conquistar a confiança paraguaia e minar a influência brasileira. Não podemos esquecer que foi uma estratégia brasileira e paraguaia que frustrou o projeto dos EUA de instalar uma base militar no Paraguai, há alguns anos. Não é de duvidar que tentem retomar o projeto, principalmente considerando que o Paraguai tem uma posição geográfica estratégica para ações militares.
Para contrabalançar frente à economia assimétrica do mercado mundial, aos interesses das potências e às minorias que querem implantar regimes autoritários, precisamos de uma América Latina unida. Precisamos do Paraguai ao nosso lado. Está na hora de repensar as sanções impostas ao país. Está na hora de mudar o foco.
(Edson Dias Bicalho, presidente do Sindicato dos Químicos de Bauru e Região, secretário de Relações Sindicais da Força Sindical para a América Latina e Mercosul, secretário geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas e integrante da IndustriALL Global Union)