Estamos muito atentos à intervenção do Governo Federal na Petrobrás, pedra angular do mercado de óleo, gás e derivados no Brasil – do qual nós frentistas estamos na ponta, entre os postos e o consumidor final. Há algum alento na possibilidade de quebra da vinculação do preço dos combustíveis consumidos no país ao mercado internacional. Porém, não há como não se inquietar com o derretimento do valor de mercado da empresa, na casa das centenas de bilhões de reais, em questão de dias.
Estaríamos mais tranquilos caso de fato houvesse a intenção de fazer valer a auto suficiência que poderíamos ter na produção de óleo e gás. Pagamos o preço internacional, quando poderíamos ter gasolina barata, usufruindo o povo das benesses de ter petróleo em abundância e uma empresa de excelência como essa.
Contudo, esse não parece ser o objetivo final do governo. Pelo menos não diante da redução dos níveis de produção das nossas refinarias e da crescente importação de derivados de petróleo – que poderíamos produzir aqui, a preços menores, gerando riquezas e empregos para brasileiros. Acende a luz de alerta para a possibilidade de que a movimentação do governo tenha a ver com uma nova tentativa de sucateamento da Petrobras para a alienação das inestimáveis riquezas do nosso subsolo.
Para entender o tamanho do prejuízo que teríamos com a perda de valor de mercado da gigante estatal, que há tempos cumpre o papel estratégico de motor do desenvolvimento nacional, vale a pena voltar à década de 2000. Foi quando com a descoberta do pré-sal e o início de sua exploração naquele período, o país deu um importante passo para se tornar uma das maiores economias do mundo.
Na época, para garantir que a riqueza do pré-sal fosse destinada a melhorar a vida do povo, o governo criou, por exemplo, o Fundo Social do Petróleo, que destinava 75% dos royalties da exploração do pré-sal para a Educação e 25% para a Saúde. Ainda que os acontecimentos políticos dos últimos anos tenham dado nova destinação dos lucros da exploração do petróleo, a Petrobras continua a ser um dos principais patrimônios nacionais. Uma empresa construída com a força, a capacidade e a engenhosidade do povo brasileiro.
Qualquer mudança em suas políticas deve ser feita com responsabilidade, pois a história recente nos mostra que é imprudente tentar controlar mercados complexos como o de óleo e gás na base da canetada. O tiro pode sair pela culatra, fazendo com que a empresa perca autonomia, capacidade de produção e de geração de empregos, reduzindo sua participação no mercado nacional em relação aos concorrentes estrangeiros. O que vale não apenas para a Petrobrás, pois o atual governo dá indicações de que a Eletrobras e os Correios também estão no paredão.
Eusébio Luís Pinto Neto, presidente da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro)