
A discussão sobre jornadas de trabalho mais equilibradas precisa, urgentemente, ganhar espaço no debate público e legislativo. Um modelo promissor que merece atenção é a escala 4×3, com jornadas de 10 horas diárias — sendo 9 horas de trabalho efetivo e 1 hora destinada à refeição. Essa proposta não só é viável como pode trazer benefícios concretos para empresas, trabalhadores e para o país como um todo.
Sob o ponto de vista empresarial, a adoção da escala 4×3 representa uma série de ganhos operacionais. Com menos dias de deslocamento, há redução de custos com vale-transporte e vale-refeição. A produtividade tende a aumentar, já que o tempo de adaptação diária ao ambiente de trabalho — muitas vezes chamado de “tempo de plataforma” — é otimizado. Além disso, trabalhadores mais descansados e satisfeitos costumam apresentar menos afastamentos por doenças, o que significa menor rotatividade e menos interrupções nas equipes.
Já para os trabalhadores, os benefícios são ainda mais significativos. Ter três dias de descanso por semana permite recuperar a saúde física e mental, estar mais presente com a família, investir em estudos ou simplesmente aproveitar o tempo livre para lazer e autocuidado. Essa melhora na qualidade de vida tem impacto direto na motivação e no desempenho profissional. Trabalhadores mais felizes produzem mais e adoecem menos — uma equação simples, mas poderosa.
Do ponto de vista social e econômico, a escala 4×3 pode contribuir para um crescimento mais sustentável do País. Menos pessoas adoecendo, menos sobrecarga nos sistemas de saúde. Mais tempo livre e mais bem-estar se traduzem em uma sociedade mais equilibrada e produtiva. Inclusive, o próprio governo se beneficia, direta e indiretamente, ao ver uma redução nos custos sociais e um aumento na arrecadação, reflexo de uma economia mais ativa e saudável.
Claro, é preciso reconhecer que nem todas as atividades podem se adaptar a esse modelo, especialmente aquelas consideradas essenciais e que exigem presença contínua, como saúde, segurança pública e serviços de emergência. Para esses casos, devem ser discutidas compensações alternativas, de forma justa e proporcional. No entanto, para todas as demais áreas onde essa mudança for viável, é fundamental que ela seja incentivada.
É hora de o Legislativo Federal liderar esse debate com seriedade, buscando apoio do Executivo e da sociedade civil para implementar uma mudança estrutural nas leis trabalhistas. O modelo 4×3 não é apenas uma pauta trabalhista — é uma questão de desenvolvimento humano, social e econômico.
Se temos a possibilidade de construir um modelo mais justo, equilibrado e eficiente, por que insistir em um sistema ultrapassado que só favorece o esgotamento?
O Brasil precisa avançar. E a escala 4×3 pode ser um importante passo nessa direção.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA
Diretor de Educação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI)
Vice-presidente da Força Sindical