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Preparar-se para o pior, garantir a contenção de danos
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
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Escrevo este primeiro texto de 2021 impressionado pela velocidade com que avançam a Covid, o desemprego e o desespero dos brasileiros acossados pela fome.
As seis centrais sindicais, no dia 5 de janeiro, determinaram a concentração de nossas preocupações e exigências na luta pela vacinação já, pelo auxílio emergencial e pela solidariedade social aos mais desvalidos.
Mas então houve o brutal anúncio da Ford do fechamento de três fábricas no Brasil. A crise, que até então infernizava a massa da população paupérrima (assolada pela doença e pela falta de recursos) entrou pela casa adentro do setor organizado, arrombando a porta.
O infausto anúncio somou-se coincidentemente ao da demissão por PDV de cinco mil bancários do BB e do fechamento de quase 400 agências, bem como de inúmeras demissões maciças em muitos outros setores; uma epidemia de demissões anunciadas.
Para o movimento sindical que tem resistido e procurado manter a lucidez e a unidade, a situação criada é a que recomenda preparar-se para o pior, sem ilusões, sem bravatas, sem desfalecimento.
Preparar-se para o pior implica imediatamente em um esforço das direções sindicais de subirem às bases, conectando-se com as aflições e expectativas de milhões de trabalhadores. Significa também garantir a unidade de ação ao resistir e evitar o discurso voluntarista grandiloquente e vazio que na prática precede derrotas acachapantes e que, no mínimo, não leva em conta as possibilidades reais de luta, bem como a solidariedade imediata e necessária aos trabalhadores prejudicados.
A garantia de contenção de danos pressupõe a exigência de vacinação pelo Programa Nacional de Imunização apoiado por uma efetiva autoridade sanitária nacional informal que realize também uma campanha maciça de esclarecimento, convencimento e comunicação. Conter danos é também o objetivo da continuidade do auxílio emergencial de 600 reais até o fim da pandemia. Conter danos é ajudar os metalúrgicos da Ford a resistirem ao fechamento das fábricas, garantindo a eles na confirmação das demissões a totalidade das dívidas trabalhistas, a recolocação e auxílios emergenciais (como, por exemplo, considerar o estoque de veículos já produzidos pela Ford como um fundo adicional que lhes garanta um abono complementar).
Ao se preparar para enfrentar o pior e garantir a contenção de danos o movimento sindical demonstrará sua relevância.
João Guilherme é consultor de entidades sindicais de trabalhadores