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Redistribuição da Renda Canavieira
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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É sabido que o agronegócio paulista representa grande fatia da economia nacional. A soma da produção agropecuária no Estado alcançou, em 2009, a importância de R$ 39,6 bilhões, o que representa um valor considerável. Mas das 15 regiões administrativas de São Paulo, apenas quatro tem produção predominante de outra cultura que não seja a canavieira: São José dos Campos, com a carne bovina; Registro e Baixada Santista, com a banana; e São Paulo, com o caqui. Nas outras onze, como dito, o principal produto foi mesmo a cana.
Diante do rápido crescimento do setor, sua representação para a balança comercial e importância como produtor de um combustível alternativo e menos letal ao meio ambiente, digo que não tenho absolutamente nada contra a produção da cana-de-açúcar. O que preocupa é a concentração de renda do setor. É fato que não são muitos os grupos industriais que participam desse processo. Até cerca de 20% do setor já está na mão de grupos estrangeiros, que vêem no etanol e no açúcar grandes fontes de renda. Além disso, à medida que aumenta a área plantada da cana, diminuem as áreas de café, hortifruti, e outras culturas.
Hoje, grande parte dos pequenos produtores vendem ou arrendam suas terras para as usinas, provavelmente por acharem isso mais rentável.
E muitas vezes o fazem também porque são pressionados, por conta das pulverizações aéreas feitas sobre áreas canavieiras, que prejudicam por tabela suas lavouras, que estão próximas ou entre essas áreas. E à medida que as famílias vão deixando a área rural, ajudam a inchar as grandes cidades, porque em cidades menores não há o que fazer.
Diante de um quadro econômico excludente, digo que precisamos trabalhar para distribuir a renda da agricultura. A Fetaesp, entidade cujo sou presidente licenciado, realiza todos os anos a feira Agrifam, uma ação em prol da profissionalização da agricultura familiar, que é por natureza mais diversificada. O evento, que acontece no município de Agudos, demonstra, por exemplo, o funcionamento de uma mini usina de álcool, para que os visitantes percebam que é possível fazer álcool em pequenas quantidades.
É claro que, como fonte lucrativa, a produção da cana tende a se expandir. Mas existem alternativas para que os efeitos atuais da acumulação de renda na cana para poucos sejam minimizados.
Assim, se tivéssemos os pequenos produtores formando destilarias e ou cooperativas, objetivando a venda da produção de álcool e derivados da cana, resultaria em melhor rentabilidade para sua propriedade, invés de apenas arrendar suas terras para as usinas. Pequenas destilarias poderiam produzir quantidade de álcool suficiente para atender demandas que hoje estão concentradas nas mãos de poucas empresas. Assim, além de diversificar a produção, o dinheiro seria revertido para a economia local dos municípios, elevando seu potencial. É claro que é preciso quebrar algumas barreiras para por isto em funcionamento, sobretudo a idéia de que não é viável produzir álcool, por exemplo, em pequena escala. O que não é verdade.
Se for realmente observado, o desenvolvimento da maioria dos nossos municípios seria bem melhor se conseguíssemos implantar essa fórmula de distribuir melhor a renda. Se as coisas continuarem como estão, daqui há alguns anos, mais da metade do Estado de São Paulo estará tomada por cana, com um valor de produção agropecuária considerável, mas na mão de meia dúzia de pessoas, e de até mesmo outros países. Sendo que, com a atuação distribuída, milhares de produtores rurais poderiam melhorar a renda nessa área e garantir o emprego rural com seus outros cultivos.
Braz Albertini é presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo e produtor rural