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Resistência frente à crise econômica nas negociações salariais
terça-feira, 19 de abril de 2016
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O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) divulgou na última quarta-feira (06/04) o balanço das negociações dos reajustes salariais do ano de 2015, e, que pese a crise econômica que atravessa a economia brasileira, os resultados expressaram a resistência do movimento sindical frente à ofensiva do empresariado nacional pela compressão salarial. Das 708 unidades de negociação acompanhadas por todo o Brasil, 52% conquistaram reajustes salariais superiores ao INPC-IBGE.
Sem sermos negligentes com o atual cenário de desaceleração da atividade econômica, que, antes restrita à indústria, hoje se espalha e se aprofunda também no comércio e no setor de serviços, nos compete destacar a importância do crescimento da renda e do consumo como caminho para superação da crise. A resistência do movimento sindical pela manutenção dos níveis de emprego e do poder de compra dos salários consiste de real medida anticíclica fundamental para recuperação da atividade econômica.
Em 2014, 90,2% das negociações assistidas pelo DIEESE haviam alcançado reajustes salariais superiores à inflação, ainda que este percentual tenha caído para 52% em 2015, estes permanecem como o resultado preponderante das negociações atuais. Em 2015, foram 29,9% os reajustes iguais à inflação e, mesmo que significativa, uma minoria das negociações, 18,1%, não conseguiram recompor as perdas inflacionárias. No mesmo ano, o aumento real médio das 708 unidades de negociação levantadas foi positivo em 0,23%.
Analisando as negociações mês a mês identificamos um movimento de redução dos aumentos reais a cada data-base, relacionada diretamente com a pressão inflacionária que se intensificou no decorrer do ano de 2015, bem como pela elevação da taxa de desemprego em toda a economia. Os reajustes superiores à inflação foram de 91,3% entre as categorias com data-base em janeiro, proporção esta que recuou para 28,6% entre as categorias com data-base em dezembro. Entretanto, compreender a atual dinâmica dos salários e do emprego consiste de tarefa ainda mais complexa, que requer a análise dos impactos múltiplos entre a crise política e a crise econômica brasileira.
Alguns setores, que mantiveram o ritmo de crescimento da última década no adverso período recente, como, por exemplo, aqueles relacionados ao agronegócio e ao sistema bancário e financeiro, se aproveitaram do discurso hegemônico e amplamente propagado para realizar um desnecessário ajuste na folha de pagamentos. Nestes casos, se ampliaram os rendimentos ao passo que se reduziu a força de trabalho, ou seja, ganhos de produtividade pelo aumento de exploração da mão-de-obra.
Na perspectiva estritamente econômica, o ajuste fiscal do governo baseado em elevação da taxa de juros, redução do crédito e diminuição de gasto produtivo, tão somente contribuiu para o aprofundamento da crise e atentou contra direitos dos trabalhadores, dando início a um efeito dominó. De início prejudicou diretamente o investimento autônomo, que, por sua vez, afeta a produção industrial, o nível de emprego, a renda e, naturalmente, o consumo.
No âmbito político temos dois importantes agravantes que incidem sobre a atual crise brasileira. Em uma ofensiva contra a democracia, o país se vê estacionado entre projetos ainda mais retrógrados e conservadores, tais como, a “Agenda Brasil” e a “Ponte para o futuro”. Por outro lado, uma suposta guerra contra a corrupção sintetizada no símbolo máximo da “Operação Lava-Jato” recupera alguns poucos milhões e sangra do país outros tantos bilhões, contribuindo para a destruição do que um dia foram os pujantes setores da construção civil e da exploração de petróleo no Brasil. Longe de legitimar qualquer forma de corrupção, todos nós fazemos coro pela continuidade das investigações, mas que estas sejam feitas sem o claro e deturpado viés político-partidário que se adotou.
Neste complexo cenário político e econômico, a categoria dos trabalhadores nas indústrias químicas e farmacêuticas mostrou sua força na resistência diária e na negociação coletiva. Na data-base de 1º de Novembro de 2015, os químicos obtiveram reposição integral das perdas inflacionárias sem parcelamentos. Esta semana, assinando acordo para data-base 1º de Abril de 2016, os trabalhadores das indústrias farmacêuticas conquistaram aumento real e foram protagonistas na implementação da política estadual de redução do ICMS para manutenção de postos de trabalho. Nesta linha, certos da importância de retomada do crescimento econômico pela via da geração de emprego e de renda, nos mantemos resistentes e seguros na superação dos desafios que se apresentam todos os dias à classe trabalhadora.
Sergio Luiz Leite,
Presidente da FEQUIMFAR e
1º secretário da Força Sindical