Está realmente difícil o Brasil engrenar e mudar o curso de empobrecimento. Atualmente, são mais de 14 milhões de pessoas desempregadas e boa parte passa fome. Somos o segundo maior exportador de alimentos do mundo, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), mas Relatório da Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que 23,5% da população brasileira tenha vivenciado insegurança alimentar moderada ou severa entre 2018 e 2020. De 2020 para cá, com a pandemia de coronavírus, a situação só pirou. E, infelizmente, parece que está longe desse cenário mudar.
A vacinação contra a Covid-19 avançou e as medidas restritivas foram flexibilizadas com o recuo da pandemia. Mas o PIB do segundo trimestre de 2021 encolheu 0,1% na comparação com o primeiro trimestre do ano. O agronegócio, que estava puxando o PIB para cima, agora, com a falta de chuva, teve queda de 2,8%; setor industrial, recuou 0,2% e o setor de serviço ficou estagnado. Por outro lado, a inflação segue subindo e corroendo a renda do trabalhador e da trabalhadora. Neste ano, o IPCA já acumula alta de 4,76%, reflexo do aumento dos alimentos, dos combustíveis e, mais recentemente, da energia elétrica.
No ano, a gasolina na bomba acumula alta de 27%. Com aumento dos combustíveis, até trabalhadores totalmente precarizados, como motoristas de aplicativos, perderam renda porque não compensa mais rodar. Agora, a escalada de preço é da energia elétrica. Considerando o valor do início de 2021, já está 16% mais cara e vai subir mais. Com o novo reajuste anunciado para a bandeira vermelha, a estimativa é que a tarifa média fique até 7% mais cara neste mês. Se não bastasse o rombo que reajuste de combustível e da energia causa no orçamento do trabalhador, há um outro e grande problema, além da instabilidade política que vivemos. É o risco de racionamento de energia e, inclusive, de apagão.
Só a possibilidade de faltar energia elétrica já é um desastre. Setores da economia que ensaiavam uma recuperação com o recuo da pandemia vão ficar estagnados. O empresariado não vai investir se tiver risco de precisar desligar máquinas por falta de energia. Sem investimentos, sem economia aquecida, não há geração de empregos. Infelizmente vamos continuar com desemprego recorde.
O problema da crise hídrica não é simples. Inclusive o agronegócio também já reduziu a previsão de produção para este segundo semestre por causa da falta de chuva. Mas é um problema que o Brasil precisa enfrentar de maneira sistêmica, com políticas públicas que inclua proteção das florestas, rios e córregos; fiscalização para desmatamento e poluição de mananciais; investimento em energias renováveis e fomento à produção sustentável para o agronegócio e para a indústria. É totalmente o oposto que o governo federal prega e faz. E, quando surge o problema, como o do risco de racionamento, é preciso reconhecê-lo e adotar medidas para amenizar a situação, o que não foi feito por este governo.
As escolhas deste governo têm sido as piores possíveis – e em todas as áreas. Ruim para o setor produtivo como um todo e um desastre para os brasileiros. Não é apenas algo que tem de mudar. Temos que mudar muito – ou tudo – porque boa parcela dos brasileiros está sem emprego, com fome e com risco de ficar no escuro.
Edson Dias Bicalho
presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Bauru e Região (Sindquimbru) e secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar)