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Ser atuante. Uma questão de sobrevivência
quinta-feira, 2 de junho de 2016
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Companheiros, iniciamos o mês de junho sob o efeito da divulgação do levantamento mensal da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) que acusou que 51% das negociações salariais de abril resultaram em reajustes abaixo da inflação.
Alarmante, já que no mesmo mês do ano passado, essa porcentagem representava 32% do total. Os dados são do relatório “Salariômetro” e, de acordo com esse relatório da Fipe, a folha salarial caiu de R$ 103,3 bilhões em fevereiro de 2015 para R$ 96,2 bilhões no mesmo mês deste ano, o que representa queda de 6,9% no período. Ou seja, a massa salarial, a soma de todos os salários pagos aos trabalhadores durante o ano caiu.
Para nós, sindicalistas que fazem as negociações, significa que os sindicatos em geral, submetidos ao cenário de crise econômica, ficaram enfraquecidos perdendo parte do poder de fogo, já que paralisações e movimentos grevistas se tornam estranhos aos olhos dos trabalhadores aterrorizados pela ameaça da demissão. Assim, o desemprego se torna uma ameaça que sobrepõe às questões negociais e a luta por conquistas se torna algo muito difícil.
O resultado está aí. Metade dos acordos firmados em abril acusam perdas reais e desvalorização salarial, retrocedendo os direitos conquistados a duras penas em anos de luta.
Na contra mão, o projeto do governo interino de flexibilização da CLT coloca as entidades sindicais em xeque-mate.
Claramente, a bancada empresarial que promoveu a iniciativa do projeto sob a bandeira liberal de ampliar o dinamismo das relações trabalhistas e agilizar contratações e desonerar a folha aposta contra o movimento sindical.
A aposta é no fracasso laboral nas negociações, pois visa retirar direitos já garantidos em troca de supostamente ampliar o poder das convenções e acordos em detrimento da CLT. Nessa tese, o que já está conquistado deveria ser novamente negociado e a parte inábil fatalmente sairia em desvantagem. Essa mudança de sobrepor a matéria negociada em cima da matéria legislada que tem sido proposta pela bancada empresarial e pelo próprio governo interino, caso se concretize, só poderia funcionar com sindicatos representativos e atuantes com negociadores preparados e com a categoria mobilizada em torno. Mas infelizmente, a realidade nacional não é assim.
Reside aí o grande risco de dar à negociação maior poder sobre o legislado.
Estes dois cenários, um atual de negociações em declínio e um futuro com estas mesmas negociações sobrepondo à CLT nos levam a um desafio: sermos ainda mais atuantes, mais representativos e mais fortes.
Apesar dessa preocupação no âmbito geral, aqui em Catalão, os trabalhadores e a diretoria estão acostumados com a luta e com a atuação do sindicato frente às demandas da categoria. No Sindicato Metabase, com muita luta, deixamos o mês de maio com todas as negociações que foram finalizadas se equiparando ao índice da inflação do INPC ou superando acima e com ganhos reais, também, em benefícios.
Não está sendo fácil, mas há anos estamos nos preparando com qualificação negocial e com estrutura sindical que agora demonstram ser decisivas, além, claro, do empenho dos dirigentes que participam das negociações. Assim, no Metabase, estamos sempre preparados para o pior.
Para nós, caso avance no congresso, essa questão da CLT só nos dará mais responsabilidades ainda, pois não poderemos vacilar. E errar, jamais.
O provável enfraquecimento da CLT nos lançará em um mundo novo de possibilidades das quais a maioria contra o trabalhador e contra o dirigente laboral.
As entidades que agora já não estiverem conseguindo manter o reajuste da inflação nos acordos atuais poderão retroceder os direitos conquistados em anos e entregar as negociações salariais à deriva do mercado e da oferta e procura de mão de obra. Seria a grande vitória do capital e do liberalismo que com a flexibilização pretende isso mesmo: a derrota das entidades sindicais laborais por elas mesmas.
Portanto, o cenário trabalhista negocial à frente não demonstra que será gentil com o movimento sindical. Apenas quem estiver preparado conseguirá manter as conquistas e não se perder em armadilhas na mesa de negociação.
Além do desemprego, a perda do poder de compra do trabalhador está aí batendo à porta.
A união dos trabalhadores e a força das entidades sindicais serão essenciais para a sobrevivência do movimento sindical como agente promovedor de conquistas.
Diego Hilário, presidente eleito do Sindicato Metabase de Catalão(GO) e região e secretário da CNTQ