O governo Collor notabilizou-se por abrir a economia nacional, por criticar o Estado (caracterizado como um elefante branco) e por chamar os carros nacionais de carroças.
Na sequência, o governo FHC, respaldado pelo Plano Real (que realmente combateu a inflação galopante), aproveitou para transferir o controle da economia nacional para as grandes multinacionais, através da privatização de valiosas e estratégicas empresas estatais. O resultado desses erros foi a fragilização da indústria nacional, a dificuldade de elaborar um plano nacional de desenvolvimento sustentável e soberano e o Estado brasileiro foi quase cooptado por um sistema financeiro globalizado, ficando atrelado aos interesses das nações dominantes – tanto em termos de disponibilidade de dinheiro, como de domínio tecnológico.
O caso brasileiro é mais uma constatação de que o neoliberalismo é mais uma fase do capitalismo, desenvolvido para superar a maior crise capitalista até hoje ocorrida. O neoliberalismo é um engodo que promete riqueza, mas entrega somente injustiças; que dá falsa sensação de que somos donos de nossas vidas, mas é outra estratégia de dominação e restabelecimento político e econômico das condições políticas, financeiras e econômicas que assegurem os maiores lucros possíveis.
O Estado passou a ser atacado, os Sindicatos passaram a ser atacados e os direitos trabalhistas viraram custos, que impediam a maior competitividade empresarial. Os gastos estatais foram direcionados, através de um Congresso Nacional descolado do povo e manipulado por interesses nada republicanos, para projetos que, ao final, ampliam as desigualdades sociais e a concentração da riqueza.
A classe trabalhadora tem sido duramente atingida pelas promessas de modernidade, das vantagens do empreendedorismo e da meritocracia, que não oferecem as mesmas condições de partida para quem quer mudar sua condição de vida. Curiosamente, a maior classe social do país é incapaz de eleger políticos comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa, tanto na dimensão econômica, como nas dimensões social e de justiça. Milhões de brasileiros, extremamente indignados com a sua imobilidade social, são alienados pelos meios de comunicação, pelas mentiras espalhadas por criminosos em suas redes sociais e pela pressão das empresas e do mercado.
O ano de 2013, quando milhares de jovens foram às ruas para protestar contra o aumento do transporte público, abriu a caixa de Pandora para que aventureiros aumentassem o tom das críticas ao sistema democrático e ao governo, que não conseguia dar a proteção social esperada pelos brasileiros. A melhor forma de mudar as coisas passou a ser acabar com as coisas (leia-se: partidos políticos, governo forte, sindicatos fortes, legislação trabalhista, aposentadoria, gastos sociais, educação libertadora etc.).
Nesta onda surfou o bolsonarismo: quatro anos perdidos e um grande retrocesso no debate político, bem como na valorização da ética e da moral (apesar dos falsos discursos “conservadores” que se abateram sobre a sociedade). Foram eleitos os piores políticos da história do Brasil: as sessões plenárias transformaram-se em um circo de horrores, com xingamentos, ameaças e agressões físicas, os debates políticos e a elaboração de projetos de interesse coletivo foram substituídos pela algazarra juvenil, violenta e antidemocrática, que tomou conta das redes sociais.
Novamente, estamos próximos das eleições, mas a naturalização da baixaria está ainda mais evidente nestas eleições municipais. Candidato condenado e preso inventa mentiras para atacar seu principal oponente; candidatos se recusam a comparecer aos debates; as propostas de governo ficam para segundo plano e o povo alienado se diverte com o pastelão tragicômico do retrocesso democrático.
Quem achou que o capitão cloroquina era o fundo do poço se enganou. Temos um candidato boçal, que é mais esperto e fala melhor do que o “mito”, que faz gracinhas nos debates, que não conhece nada da nossa cidade, que não tem nenhuma proposta e ataca jornalistas, cria fake news e ainda tem a cara de pau de falar em liberdade de expressão.
Agora pare e pense, que o seu voto decide que tipo de sociedade queremos. A escolha é simples, lutar pela dignidade do ser humano e resgatar a solidariedade entre as pessoas, ou viver em um lamaçal de mentiras, agressões e desigualdades.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP e Vice-presidente da Força Sindical
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