A classe patronal é boa no discurso quando defende o equilíbrio nas relações capital-trabalho. Nós também defendemos.
Mas não tem a mesma qualidade na prática. É o caso do que está acontecendo agora no segundo turno com o chamado assédio eleitoral nos locais de trabalho.
Muitos empresários abusam do poder de mando e tentam impor o voto de cabresto. Até que façam campanha pro candidato deles, jogo jogado, faz parte da democracia. O problema é quando extrapolam, tentam impor o voto, fazem ameaças de punir quem votar no outro candidato e, por incrível que pareça, oferecem até dinheiro pra quem for de Bolsonaro.
Sou eu que digo isso? Não. Quem diz é o Ministério Público do Trabalho (MPT), que tem atuado do Oiapoque ao Chuí, verificando denúncias, buscando apurar casos de assédio ou mesmo partindo pra aplicar multas quando o abuso é flagrante.
Nessa luta, que infelizmente extrapola as regras do jogo democrático, o sindicalismo age com união, firmeza e eficiência. A ação mais efetiva tem sido junto ao MPT. Ou seja, o Sindicato recebe a denúncia, envia ao órgão, que faz a triagem e, em havendo indícios, inicia os procedimentos cabíveis.
A ação sindical, sempre baseada em fatos concretos, chamou a atenção da grande mídia. Diversos jornais, entre eles O Globo e a Folha de S.Paulo, noticiaram casos e também colocaram em campo equipes de reportagem.
O próprio Jornal Nacional, assim como o Canal Globo News, tratou do assunto em recentes reportagens. Isso é muito importante, pois, além de informar o que está ocorrendo, a mídia alerta o patronato sobre os riscos desse abuso e orienta o trabalhador a se defender.
As Centrais Sindicais deram um importante passo adiante quando criaram site específico pra receber denúncias (assedioeleitoralecrime.com.br). Na medida em que os trabalhadores tomaram conhecimento desse canal, passaram a enviar denúncias sobre assédio eleitoral em todo tipo de estabelecimento.
Os dirigentes das Centrais fazem o seguinte: recebem a denúncia, digamos, de uma cidade em Minas Gerais. Aí, o comando nacional avisa as Estaduais, que apuram se aquela empresa está vinculada à base da Central A ou B. Depois disso, a Central local aciona o Sindicato da sua base ou encaminha diretamente ao Ministério Público do Trabalho.
O combate ao assédio eleitoral por patrões ou elementos ligados às chefias une e mobiliza o sindicalismo e o trabalhador assediado sabe que terá com quem contar. Isso aumenta a confiança na instituição sindical.
Toda história tem personagens. Quero, portanto, destacar, aqui, o papel de proa da Conalis, órgão do Ministério Público. E em nome do companheiro Juruna, secretário-geral da Força Sindical, parabenizar todos os dirigentes que abraçaram essa causa, em defesa do voto secreto, em defesa da causa democrática.
Eusébio Luis Pinto Neto é Presidente da Federação Nacional dos Frentistas – Fenepospetro, e do Sindicato da categoria do Rio de Janeiro