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Um passo à frente
sexta-feira, 1 de março de 2013
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No Brasil, a política de valorização do salário mínimo e os ganhos reais, obtidos por intermédio das negociações coletivas, contribuíram expressivamente para amortecer os impactos da crise mundial, devido ao efeito positivo sobre a distribuição de renda, inclusive sobre a demanda agregada, e contribuíram com as bases do tão almejado “desenvolvimento civilizatório”.
Contudo, como em diversos momentos da nossa história, segmentos da sociedade contrários a este ideal, voltam suas baterias contra qualquer movimento que tenha como objetivo eliminar a ferida aberta da desigualdade.
Recentemente tem pipocado na imprensa o discurso que o custo da mão de obra é uma barreira para a competição. Mas qual é a inserção competitiva que queremos? No passado, o País adotou a estratégia de modernização conservadora, onde prevalecia o ideário de que o crescimento era essencialmente baseado na concentração de renda, subemprego, informalidade e heterogeneidade nas ocupações, elevadas taxas de rotatividade e arrocho salarial.
Este momento, em que pese a crise, é mais favorável para construirmos uma alternativa para o desenvolvimento. A transição parece estar em curso, mas ainda com muitos traços conservadores e atrasados.
Os desafios no curto, médio e longo prazo são enormes. Precisamos elevar os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) para 25% do PIB, reduzir os grandes gargalos de infraestrutura e logística, elevar a escolaridade geral da população e aumentar a formação técnica e a qualificação profissional dos trabalhadores, eliminar a taxa brutal de 35% da rotatividade e recuperar os elos perdidos da indústria brasileira.
Precisamos também adensar novamente a cadeia produtiva (a participação da indústria no PIB caiu de 35,8% na década de 1980 para 15,3% em 2011) e, sobretudo, elevar o valor agregado dos produtos produzidos no Brasil.
As cartas estão na mesa. O momento impõe desafios significativos para a sociedade brasileira e, do nosso ponto de vista, a melhor solução é subordinar o crescimento econômico à capacidade de gerar renda, reduzir a iniquidade, criar empregos e novas atividades. Nós conhecemos bem o Brasil competitivo com baixos salários e precarização.
O problema de competitividade que a indústria brasileira enfrenta é sistêmico e precisa ser enfrentado nesta dimensão. Os trabalhadores brasileiros reivindicam que as estratégias de enfretamento da crise e da competitividade sejam virtuosas, meritórias, autênticas (com progresso técnico e elevação de salários) e não espúrias (com precarização, redução de renda e redução de direitos).
Miguel Torres
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, CNTM e vice-presidente da Força Sindical