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Um século depois
quarta-feira, 5 de julho de 2017
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A TV Senado vem divulgando um vídeo sobre a grande greve geral de São Paulo em julho de 1917, cujo centenário foi pretexto para vários eventos acadêmicos, como o debate realizado no Cedem da Unesp e o seminário na Universidade Federal do Paraná. Também sobre a greve, José Luiz Del Roio lançou um livro (editado pela fundação Lauro Campos) que terá sua coedição patrocinada por inúmeras entidades sindicais.
O vídeo do Senado é tão informativo que eu acalento a ideia de que os senadores e senadoras que o virem não aprovarão a deforma trabalhista proposta pelo governo Temer e aprovada a toque de caixa pela Câmara dos Deputados.
Isto porque com esta aprovação – aprovação sem mudança alguma nos 117 artigos reacionários que vieram da Câmara com a promessa de vetos presidenciais e de edição de medidas provisórias – os senadores e senadoras estarão compactuando com o retrocesso de um século nas relações de trabalho no Brasil, sobre o falso pretexto de modernizá-las.
Basta listar as reivindicações dos grevistas em 1917 e compará-las – levando-se em conta a evolução da sociedade e dos direitos dos trabalhadores – com as modificações que a deforma, uma vez aprovada, fará valer em benefício exclusivo dos empregadores e do mercado. Em pleno 2017 as gestantes e mães que amamentam ficam condenadas a trabalhos em ambientes insalubres. É ou não é um retorno às piores situações de 1917? E a extinção da contribuição sindical não nos remete a um período em que a organização dos trabalhadores não tinha nenhuma sustentação legal?
Em decorrência da greve de 1917 houve, sobre o assunto e sobre o tema trabalhista, acalorados debates no Senado de então.
Alguns senadores, como Raimundo de Miranda (AL), defenderam uma das reivindicações dos grevistas, a redução da jornada de trabalho, argumentando que “obrigar a trabalhar mais de oito horas por dia é uma exigência superior às forças humanas”. Ele queria também combater a carestia de vida (fator preponderante para a deflagração da greve) e a especulação.
Mas outros, como Adolfo Gordo (SP), encarnaram a face feroz da repressão defendendo a expulsão dos estrangeiros sem a qual o país “torna-se um asilo de anarquistas, bandidos, cafetões, vagabundos e outros elementos detestáveis”.
E você hoje, senador ou senadora, depois de ver o vídeo estará com Miranda ou com o Gordo? Aceitará obedientemente o mostrengo que veio da Câmara? Fará a roda da história voltar para 100 anos atrás?
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical