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Uma nobre advertência
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
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Vivemos nos últimos dias uma contradição espetacular. Se perguntarmos a cada um de nós o que mudou agora, muito poucos (duas extremadas minorias) poderiam responder com precisão: os que ganharam e os que perderam diretamente com as mudanças ocorridas. A imensa maioria não realizou ainda nenhuma nova mudança.
E, no entanto, todos sabemos que as coisas vão continuar mudando já que, para os trabalhadores e a maioria da sociedade, as mudanças para pior já vinham acontecendo. Registre-se, por exemplo, o balanço das negociações salariais no primeiro semestre de 2016, recentemente publicado pelo Dieese, em que 40% dos acordos perdem para a inflação. Some-se a isto o aumento constante do desemprego e está configurada uma situação extremamente negativa, nas condições e nos resultados.
Os anúncios feitos pelo governo – ilegítimo por carência de votos, mas legal pelos procedimentos – agravam ainda mais este quadro para todo mundo.
Um só exemplo: sobre a pretendida reforma previdenciária, durante sua interinidade, o governo prometia solenemente negociar até à exaustão com as centrais sindicais. Agora, já efetivo, o governo anuncia unilateralmente e envia ao Congresso Nacional, um pacote de medidas não discutidas nem negociadas com os trabalhadores e os aposentados. É mais que goela abaixo, é goela abaixo com o funil deste Congresso Nacional como se faz com os patos.
Cito, para compartilhar, uma advertência do florentino Francesco Guicciardini aos seus contemporâneos do século XVI: “Todas as cidades, os estados e os reinos são mortais, todas as coisas, por sua natureza ou por alguma casualidade terminam e acabam em um dado momento. Portanto, ao cidadão que toca viver na etapa final de sua pátria, não cabe queixar-se dessa desgraça e de tão grave ruína, mas sim de seu próprio infortúnio. À sua pátria aconteceu o que de qualquer modo deveria acontecer, mas a desgraça foi dele, a quem coube nascer em uma época na qual se produziu o desastre”.
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical