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Uma nova velha história
quinta-feira, 19 de maio de 2011
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Essa é uma velha história que se repete: o monstro da inflação está de volta e com ele a malfadada mania de jogar a culpa nos trabalhadores. Muitos daqueles, que são chamados ou se intitulam especialistas, analistas e/ou comentaristas econômicos já começaram a alardear pela televisão, na internet, nos jornais e revistas suas críticas, artigos e comentários, chamando atenção para o “perigo” de a classe trabalhadora poder contar com um pouco a mais de dinheiro no bolso, e assim, aumentar o “perigoso” consumo interno brasileiro. “Muito cuidado com as Campanhas Salariais que estão aí”, é o que eles avisam, “pois elas podem e deverão ser as grandes culpadas pelo ‘surto inflacionário’ que se aproxima”.
Sabemos que a inflação é uma vil ameaça a toda sociedade, um problema que atinge principalmente a grande massa de trabalhadores e, apesar do movimento sindical já ter conquistado diversas melhoras na remuneração dos trabalhadores, reconhecemos que os salários ainda estão aquém de suas reais necessidades. São ganhos insuficientes para um sustento próprio, quanto mais para a sobrevivência de suas famílias. O passado não nos deixa esquecer o quanto a classe trabalhadora sofreu com as constantes desvalorizações salariais, com o desemprego, as inúmeras crises e pacotes econômicos que minaram por anos a auto-estima do povo brasileiro, sendo que tudo isso foi resultado de um monstro inflacionário, incentivado principalmente por governos omissos, com políticas incompetentes e administrações irresponsáveis. Agora, após um longo processo de ajuste econômico e social, que contou com a participação direta de representantes máximos da classe trabalhadora, ou seja, com o apoio e luta de entidades sindicais serias e compromissadas, temos que aturar o desaforo de uma minoria privilegiada. Segmentos, cujo interesse maior é o de poder continuar a usufruir de um sistema viciado, em que a especulação com os juros altos, sempre permeia em autobenefício, em detrimento e contraste às necessidades da grande maioria da população.
Ora, enquanto eles especulam, o povo luta e sofre por gama enorme de necessidades mínimas de existência. Nesse contexto, a luta contra a desigualdade social e, principalmente, contra a miséria, fica cada vez mais árdua. Será que eles se acham espertos demais ou são apenas oportunistas em detrimento ás necessidades do povo? Se alguns precisam de um bê-á-bá, então vamos ao que interessa: mais uma vez precisamos ressaltar que o reajuste salarial significa a recomposição das perdas de todo um ano de trabalho. E que o aumento real é consequência de toda produtividade e ganhos empresariais. Que a PLR significa uma “pequena” participação nos lucros e receita das empresas. E que Sindicato, vejam bem, é uma entidade compromissada com a base, que serve de instrumento de luta para a classe trabalhadora, sempre objetivando condições dignas de trabalho, manutenção dos direitos adquiridos e maiores conquistas econômicas e sociais em benefício de toda sociedade. E mais uma vez, devemos lembramos a todos que, se não fosse o consumo interno verificado nesses últimos anos, gerado principalmente pelo incentivo e crescimento do emprego formal, não teríamos sobrevivido à crise de 2008. O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e o primeiro a sair. Fizemos a nossa parte, o governo fez a sua e o empresariado correspondeu. Quem saiu ganhando foi a sociedade brasileira.
Inflação se combate com investimento em infra-estrutura e mais emprego, para que se possa produzir mais e melhor atender a demanda. Não podemos confundir crescimento com desenvolvimento, pois, do que adianta o crescimento do PIB se o nosso IDH é fraco, se o acesso à saúde, ao lazer e à educação é precário.Muito ainda precisa ser feito. Há muito tempo que falamos na necessidade de um diálogo maior, entre governo, empresariado e representantes da classe trabalhadora. Isso tudo, além de uma maior centralização de forças numa competente e justa reforma fiscal e tributária. Vamos continuar a batalhar pelo que é nosso. Por isso não podemos deixar que essa velha história se repita. Continuaremos a lutar em nossas campanhas, acordos e convenções coletivas, por reajustes salariais dignos, por aumento real, pela PLR, maiores conquistas e direitos para a classe trabalhadora. A matemática é pura e simples: mais investimentos e menos especulação.
Sergio Luiz Leite é presidente da FEQUIMFAR (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo), 1º secretário da Força Sindical e representante da Força Sindical no CODEFAT (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador).