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Vera Motta: Nair Goulart – Uma mulher especial
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
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O movimento sindical amanheceu mais triste dia 7 de setembro de 2016. Por ironia do destino, no dia que simboliza a luta por direitos do país que tanto defendeu, a amiga e companheira Nair Goulart se despedia. Justo agora, época em que a classe trabalhadora tanto precisava de sua garra e sua capacidade de mobilização, diante das ameaças de perda de direitos. Afinal, durante toda sua vida, Nair se notabilizou na linha de frente das lutas pelos direitos dos trabalhadores.
Nascida em Minas Gerais, em Dores de Indaiá, Nair era mineira como a ministra que acaba de tomar posse como presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmém Lúcia, que também, pelo seu discurso, defende direitos dos cidadãos brasileiros.
Fico triste pelo falecimento de Nair. Não esqueço do nosso primeiro encontro. A Conheci em maio de 1999, na 7ª Conferência Mundial das Mulheres, no Rio de Janeiro. Sendo eu, à época, diretora de duas entidades de securitários filiadas a Força Sindical, participei da conferência, representando a Força do Rio de Janeiro.
A partir daí, passei a conviver mais de perto com Nair e outras companheiras que até hoje estão na Força Sindical nacional ou à frente de lutas setoriais. Com o início dessa amizade, fui indicada para cursos de aperfeiçoamento de dirigente sindical na Venezuela, participando também de eventos no Uruguai e Argentina e na Força Sindical, o que muito favoreceu meu crescimento e desempenho como líder sindical. Fui diretora do Sindicato Nacional dos Aposentados e também secretária da Mulher na Força Sindical nacional. Todo esse caminho só foi possível a partir de Nair Goulart, que não me deu apenas uma mão, mas, como amiga, as duas.
Ela começou a trabalhar numa fábrica textil em 1965. Na década de 70 entrou para a vida política. Em 1973, passou a trabalhar na Metalúrgica General Eletric, participando do Comitê de Organização da greve geral dos metalúrgicos, em São Paulo, em 1978. No ano seguinte, iniciou o trabalho organizativo do 1° Congresso das Mulheres Metalúrgicas de São Paulo. Em 1981, foi eleita, pela primeira vez, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Dez anos depois, era eleita Secretária Nacional de Políticas para as Mulheres da Força Sindical. Entre 2000 e 2001, organizou a regional da central na Bahia, que presidia até hoje. Entre 2005 e 2008, Nair foi, também, membro do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e, em 2010, assumia como presidente adjunta da CSI, sem, contudo, deixar de participar, ao longo desses anos, das inúmeras lutas dos trabalhadores da Bahia. Não abriu mão da política de defesa dos direitos fundamentais da classe trabalhadora e defendeu o desenvolvimento social e econômico com ampla distribuição de renda, cujo centro fosse o trabalho. Em 2007, passou a fazer parte do Comitê Gestor da Agenda Bahia do Trabalho Decente e a compor o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia.
Nair teve uma longa experiência no sindicalismo brasileiro e internacional. Mãe, guerreira, militante, foi pioneira em diversas frentes e escreveu seu nome na história do sindicalismo brasileiro com cores únicas. São tantas as qualidades que tornaram Nair Goulart verdadeiramente uma mulher especial… Ela morreu fisicamente, mas está viva entre nós, como exemplo.
Vera Motta é a 5ª vice-presidente da Força RJ