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Filmes
Dica de filme: The Tudors
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Filmes
The Tudors
Canadá, Irlanda, 2007
Michael Hirst
Com: Jonathan Rhys Meyers, Henry Cavill, Natalie Dormer, Sam Neill, Jeremy Northam
Antes de tudo, vale dizer que em 2016 comemoramos os 500 anos do livro A Utopia, de Thomas Morus, um dos grandes ideólogos do Renascimento. Nada menos que meio milênio. A idade do Brasil.
Mais do que um livro “A Utopia” é uma ideia brilhantemente definida por Morus através do neologismo ou-topia, “não lugar”, articulando as palavras gregas “où” e topos”. Antes desta definição, o que se imaginava, mas não se podia verificar na realidade, se restringia à ideia de “ilusão”, sem dimensões política, geográfica e social.
Em 1516, entretanto, a ideia do “não lugar” – ou de civilizações idealizadas por viajantes, exploradores de terras recém descobertas, estava no ar. Histórias de eldorados, amazonas, serras de prata, lagoas mágicas, fontes da juventude, estudadas por Sérgio Buarque de Holanda e publicadas em seu Visão do Paraíso, de 1959, nasceram naquele momento. E este idealismo geográfico foi a matéria prima para a construção teórica de Morus.
Feito este preambulo, vamos ao que nos interessa. Dimensões política, geográfica e social, Renascimento, Thomas Morus e “novo mundo” são alguns dos ingredientes da série britânica The Tudors. Morus, entrou para a corte do Rei da Inglaterra em 1520 e tornou-se um dos seus mais influentes conselheiros, até contestar sua forçosa reforma religiosa. Longe de ser protagonista da série, Morus encarna as contradições ideológicas do Rei que, era devoto do Papa, mas rompe com o Vaticano após ter a anulação de seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão contestada pela igreja católica.
Em uma das primeiras temporadas, Henrique chega a citar Maquiavel, outro grande ideólogo da época. Ainda jovem, ele diz que prefere ser temido do que ser amado. E é com essa atitude que ele segue no comando absoluto da Inglaterra, sendo amado, quando possível, e temido sempre, impondo sua vontade a todos que o cercam.
Com tal “pulso firme” Henrique VIII enfrentou Roma e fundou a igreja anglicana confiscando todas as propriedades que a Igreja Católica possuía na Inglaterra. Sua principal motivação, segundo a série, foi a paixão arrebatadora que sentia por Ana Bolena.
Catarina, sua primeira esposa, é retratada como uma mulher mais velha que o Rei, austera, amada pelo povo inglês e extremamente católica. Deste casamento nasceu uma filha, Maria, que mais tarde viria a se tornar Rainha da Inglaterra. A geração de um filho homem, que o substituísse após sua morte, era uma obsessão do Rei, e com Catarina este seu sonho já não apresentava mais sinais de que poderia se realizar. Em sua paixão por Bolena, desta forma, há também o anseio pelo filho homem.
Movido por suas paixões carnais e por suas obsessões, por uma aguda desconfiança e, sobretudo, pela absoluta consciência do seu poder, Henrique VIII atravessa 55 anos de vida, 26 de reinado, seis casamentos, inúmeras batalhas e incontáveis sentenças de morte, em quatro temporadas.
O rompimento com Roma é empurrado goela abaixo, com o uso indiscriminado da força, execuções em praças públicas, perseguição política, repressão, dissolução de mosteiros, em uma onda de entusiasmo monástica que varreu a Inglaterra.
Com excelente caracterização da época, a série mostra uma Inglaterra poderosa e temível, no centro de profundas transformações mundiais entre 1518 e 1540. Ela nos leva a conhecer, e nos convida a pesquisar, sobre a história, de forma instigante e envolvente.
Carolina Maria Ruy é coordenadora do Centro de Memória Sindical