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Alta salarial na Alemanha deve estimular demanda
quarta-feira, 1 de abril de 2015
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Os salários na Alemanha, o motor da economia europeia, estão subindo em nível recorde e impulsionam o consumo nesse país, normalmente prudente no gastos. Mas, na zona do euro como um todo, os últimos dados da inflação e do desemprego, divulgados ontem, não atenuam a ameaça de um prolongado período de deflação no bloco da moeda comum.
Em 2014, os empregados na Alemanha tiveram aumento de 3% nos salários negociados, obtendo a maior alta de pagamentos desde 1993, conforme o Deutsche Bank. Isso foi resultado das boas condições pouco usuais do mercado de trabalho: desemprego baixo e caindo, e vagas de trabalho sendo oferecidos em volume recorde. A queda no preço do petróleo igualmente deu um novo impulso ao consumo.
Para este ano, as perspectivas salariais continuam boas, no rastro de um crescimento da economia já revisto para o alto, de 1,4% para 2% (comparado a 1,6% no ano passado) por boa parte dos analistas. O aumento do emprego deve continuar em ritmo talvez mais moderado. A produtividade pode se expandir para 1,1%, ante 0,2% em 2014, graças ao crescimento da capacidade utilizada
A posição de barganha dos sindicatos alemães é reforçada. Novos contratos coletivos de salários estão sendo negociados neste ano para 11 milhões de empregados, representando 25% da força de trabalho da maior economia europeia. Os setores metalúrgico e de engenharia elétrica, com 3 milhões de empregados, dá o tom. Em fevereiro, conseguiu alta salarial de 3,4%, muito além da taxa de inflação, de 0,9% em 2014.
Na semana passada, foi a vez de 550 mil empregados do setor químico obterem aumento salarial de 2,8%. Esse percentual menor se explica pela situação do segmento, com menor demanda e esperando contração de 0,5% no faturamento deste ano, no rastro da baixa do preço do petróleo.
Na média, os trabalhadores alemães vão sair com aumento salarial acima de 2% neste ano – comparado à inflação de 1%. As empresas, por sua vez, falam de acordos "excessivamente caros" num cenário de grandes riscos geopolíticos, como a situação na Rússia e na Ucrânia, incertezas na zona do euro envolvendo a Grécia, forte declínio na taxa de inflação, e ganhos competitivos de rivais estrangeiros.
Para o Deutsche Bank, porém, esses argumentos são válidos apenas parcialmente. O banco considera que os riscos são muito difusos para ter um papel importante. E pesquisas mostram que os próprios empresários alemães são bem mais otimistas.
A demanda continua aumentando, para os padrões germânicos. E certos analistas atribuem isso também à política de juro extremamente baixo do Banco Central Europeu (BCE). A poupança só está rendendo 0,5% no país e o rendimento de títulos de dívida pública é negativo. Em todo caso, a expectativa é de que a taxa de poupança declinará nos próximos anos, por causa da alta nos investimentos imobiliários e do preços.
Enquanto os aumentos salariais alemães ajudam o consumo, na zona do euro como um todo o "núcleo da inflação" ("core inflation", medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando distúrbios resultantes de choques temporários) e o desemprego continuam aquém da expectativa.
A inflação passou de -0,3% em fevereiro para -0,1% em março. Mas isso foi inteiramente resultado de ligeira alta na inflação de alimentos e energia, causada pela desvalorização do euro neste começo de ano. A "core inflation", que exclui alimentos e energia, caiu de 0,7% para 0,6%.
A taxa de desemprego na zona do euro declinou para 11,3% em fevereiro, ante o pico de 12,1% em 2013. Mas continua muito grande para o padrão histórico, sinalizando o tamanho da capacidade em excesso na economia europeia. Por país, a situação é particularmente diferente. Se a taxa de desemprego é particularmente baixa na Alemanha (6,4%), continua alta na França (10,6%) e na Itália (12,7%) ainda nem começou a cair realmente.
O custo por hora da mão de obra também esconde fortes diferenças nacionais na União Europeia. Na média, o custo é de € 29,2, variando de € 3,80 na Bulgária e € 8,60 na Letônia até € 40,30 na Dinamarca. Cresceu 1,4% em 2014, ainda insuficiente na Europa como um todo para reforçar a confiança do consumidor e impulsionar a demanda