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Meio Ambiente
Brasil produz mais lixo, mas não avança em coleta seletiva
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
Meio Ambiente
Os brasileiros estão gerando mais resíduos, mais municípios enviam lixo para lixões, e a coleta seletiva não avança. São dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. O estudo é realizado pela Abrelpe, Associação Brasileira Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, e chega neste ano à sua 15ª edição.
Em um ano, a coleta seletiva andou de lado. Em 2016, segundo o estudo, em 1.692 cidades não havia nem sequer uma iniciativa nessa área. Em 2017, esse número caiu para 1.647. Mas, na região Centro-Oeste, por exemplo, a maior parte das cidades (55,2%) não tem nenhum tipo de seletiva.
Para Carlos Silva Filho, diretor da Abrelpe, a estagnação se deve à falta de recursos dos municípios para o serviço e à falta de adesão da população.
Segundo ele, não há incentivo à separação de recicláveis em casa. "As pessoas já sabem que devem separar, mas não separam. Ideias de outros países poderiam ser adotadas. No modelo europeu, as empresas que usarão os recicláveis como matérias-primas custeiam toda a estrutura de tratamento do pós-consumo", diz.
"Já em algumas cidades norte-americanas e na Colômbia há desconto na taxa de resíduos para quem recicla mais."
Um outro modelo, que existe no Brasil, é o sistema de recompensas, com bônus nas contas de luz.
Para resolver o problema das verbas municipais, a solução seria uma taxa específica. "As prefeituras cuidam da destinação de 177 milhões de toneladas/ano. Sem cobrança, não há solução. E a justiça fiscal tem de ser implantada. Quem gera mais lixo tem de pagar mais taxa", propõe.
Cresce número de municípios que fazem uso de lixões
A geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) foi de 78,4 milhões de toneladas em 2017, aumento de cerca de 1% em relação a 2016.
A coleta regular atingiu 91,2% do que foi gerado: 71,6 milhões de toneladas. Isso significa que 6,9 milhões de toneladas não foram coletadas pelos serviços municipais e tiveram destino desconhecido.
Mas o problema não acaba nessas 6,9 milhões de toneladas, pois também 40,9% do que é capturado pelo sistema de coleta regular é descartado de forma inadequada, num total de 29 milhões de toneladas.
Essa enorme quantidade é enviada a lixões ou a aterros controlados, nome dado a lixões adaptados, que não têm os sistemas necessários para proteção do solo, das águas e do entorno.
Para Silva Filho, o dado mais alarmante do Panorama foi o aumento da destinação inadequada no país: houve crescimento de uso de lixões de 3% de 2016 para 2017, passando de 1.559 a 1.610 o número de cidades que fazem uso desse expediente para destinação final.
"Isso revela que os municípios não estão se importando com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos —que prevê o fim deles— nem com as penalidades impostas pela lei ambiental", afirma o dirigente. "Significa que diante da restrição financeira, os municípios destinaram os resíduos para locais inadequados", afirma.
Outro dado importante é o crescimento de geração per capita. Em 2016, cada habitante gerou 1,032 kg e houve acréscimo de 0,48% para 2017, chegando em 1,035 kg.
"Esperava-se que houvesse uma mudança de padrão semelhante à que houve após a crise hídrica, com os consumidores adquirindo consciência do desperdício. Mas bastou a crise econômica diminuir um pouco e as pessoas já estão gerando mais resíduos", analisa Silva.
"No caso da água, as pessoas são atingidas no bolso. No dos resíduos, no entanto, não. Todos queremos que o Brasil cresça, mas o crescimento sem investimento em infraestrutura sanitária tem trazido grave impacto ambiental ao país", diz.