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A boca do jacaré
terça-feira, 24 de agosto de 2010
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Quando se analisa a situação das empresas e dos trabalhadores e a marcha da economia como um todo, um desenho se impõe como o resumo mais apropriado: a boca do jacaré.
Trata-se de duas retas divergentes, a primeira delas na base, quase horizontal e a segunda com acelerada elevação, ao longo do tempo. A reta da base representa a evolução dos salários, que têm progredido muito lentamente. A reta de cima representa o aumento da produtividade (ou, se quisermos, da produção, em valor ou fisicamente).
Os salários têm crescido pouco comparados ao crescimento brutal da produtividade e da produção.
Os trabalhadores que enfrentam agora as suas campanhas salariais têm falado em “fechar” a boca do jacaré, diminuindo a distância entre a mandíbula de baixo (a reta dos salários) e a de cima (a reta da produtividade); isto é possível devido aos fortes ganhos das empresas, ao emprego que também tem crescido e à capacidade instalada das empresas que, não ultrapassando o limite perigoso, garante reajustes sem pressão inflacionária (nos últimos dois meses tem havido deflação).
A essa percepção correta dos trabalhadores tem se contraposto a percepção errônea de empresários que continuam “reclamando” daquilo que até as pedras do chão das fábricas percebem que lhes é favorável.
A visão atrasada de setores do empresariado, manifestada nas negociações em curso, decorre de duas incompreensões fortes. A primeira delas é a “síndrome da recusa” e a choradeira egoísta nas mesas de negociação. A segunda, muito mais grave, é o desprezo ao inegável papel pró cíclico dos ganhos reais de salários que fortalecem toda a economia e o mercado interno. Se não tivessem o vício ideológico, os empresários deveriam ser os primeiros a admitir ganhos reais de salários mais fortes e até mesmo a redução da jornada sem redução de salário.
Para mobilizar os trabalhadores e organizar suas lutas, as centrais sindicais e os sindicatos estão coordenando suas campanhas salariais de modo a potencializar sua força e neutralizar a visão regressiva (e algumas vezes histérica) do patronato.
João Guilherme, consultor sindical