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A indústria e o rentismo
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
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Os números publicados no fim da semana passada sobre o desempenho da indústria brasileira são preocupantes, pois registram quedas fortes na maioria dos setores, em particular bens de capital (máquinas) e bens duráveis (automóveis).
A desindustrialização vem se concretizando pelo menos desde que o ex-ministro Malan mandou às favas a indústria e desorganizou setores inteiros: câmbio apreciado, juros estratosféricos, crédito difícil, importações, maquila e rentismo.
O comportamento dos empresários do setor mistura “fim do mundo”, guerra aos salários e aos direitos e peditório humilhante e mal-agradecido de medidas pontuais, enquanto arreganha os dentes com a chantagem das demissões. Mas este ano pouco mais de 12 mil trabalhadores estão em regime de lay-off.
Quando a Confederação Nacional da Indústria organizou a sabatina com os três principais concorrentes à presidência, 12 dirigentes empresariais foram destacados para fazer quatro perguntas a cada um deles. O exame destas perguntas, mais que a resposta dos sabatinados, causou-me preocupação.
Em geral, o tom foi antissalário; até mesmo o câmbio alto deverá ser corrigido pela queda do salário, a começar pela queda do salário mínimo. Mas é sabido que o industrial brasileiro, herdeiro da casa grande ou imigrante enriquecido, é atavicamente avesso aos ganhos salariais.
Minha maior preocupação, no entanto, decorre da comprovação de que a elite dos empresários industriais (se considerarmos os dirigentes sindicais representativos dessa elite) prefere entregar, na contramão de seus interesses, o comando do rebanho a lobos esfaimados: um deles chegou a exigir autonomia para o Banco Central, com o setor financeiro e o rentismo mandando ainda mais de forma inconteste na economia e patrocinando, como consequência, a desindustrialização.
Serão difíceis as lutas necessárias para garantir emprego e salário, mas serão mais difíceis ainda as lutas unitárias do setor produtivista (trabalhadores e empresários) contra o rentismo e a desindustrialização, porque em nosso barco haverá mouros a bordo.
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical