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As vozes do 1º de maio
segunda-feira, 2 de maio de 2016
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Participei de várias atividades de 1º de Maio, estive com os trabalhadores e conversei com companheiros dirigentes sindicais de diferentes categorias, buscando me manter a par do que se passa em cada uma delas e em todo o conjunto das nossas atividades.
Em Contagem, Minas Gerais, o ato pelo Dia do Trabalhador foi muito especial, com grande participação popular num centro nevrálgico da produção industrial brasileira. Ali, fiz uma consulta aos trabalhadores reunidos. Pedi para que levantasse o braço quem, entre aquelas mais de 50 mil pessoas, tivesse um desempregado na família. Infelizmente, houve unanimidade, com todos com uma mão erguida. Ficou claro que todos os presentes vivem direta ou indiretamente o drama do desemprego!
Ali, à nossa frente, se mostrou a representação real dos mais de 11 milhões de trabalhadores desempregados no Brasil, fruto da crise política e econômica que assola o nosso país. Já passou da hora de superarmos as divisões para enfrentarmos com eficácia a crise – o que não se conseguiu até aqui.
A divisão do Brasil entre nós e eles, mortadela e coxinhas, golpista e não golpista, tchau querida ou fica querida não aponta saídas claras para enfrentamento da crise. Não passa de bravataria inconsequente, ridícula até. Só serve a quem aposta na desarticulação social, na fragmentação da sociedade e no nivelamento por baixo do debate necessário.
A classe política, até aqui, conseguiu nesse ambiente de uns para um lado, outros para outro, o conforto que queria para avançar, sem responsabilidades maiores, no jogo de toma-lá-dá-cá, aprofundando o modelo que trocas de comando na máquina pública mediante votos de cabresto no Congresso.
Enquanto os políticos ora brigam, ora se entendem, o quadro real é que o desemprego só aumenta e o país afunda cada vez mais numa crise sem precedentes. Agora mesmo, acaba de sair a 15ª projeção consecutiva negativa para o PIB de 2016, com retração estimada de 3,8% entre janeiro e dezembro. Nesse quadro, a produção industrial deverá cair 5,8%. É a crise sobre a crise.
O povo que eu vi de perto nesse 1º de Maio em Minas Gerais não enxerga com bons olhos a classe política. Está cansado da corrupção, do sistema político atual, de pagar a conta da crise com seus direitos trabalhistas e previdenciários, da inflação e dos juros altos, do desemprego, dos serviços públicos de má qualidade, entre outras mazelas.
E, no entanto, é com essa classe política que está ai que o trabalhadores precisam lidar. É com os operadores do poder que temos de dialogar, negociar, pressionar e, claro, enfrentar.
No sentido do diálogo e do convencimento, considero ter sido muito importante a iniciativa da nossa central, acompanhada da UGT, CSB e NCST, de levar diversas propostas ao vice presidente Michel Temer afirmando nossas posições em defesa dos trabalhadores.
É preciso que fique claro: não foram os trabalhadores que fizeram a crise econômica e, igualmente, nada temos de responsabilidade na crise política. Temos, isso sim, feito a nossa parte na criação de riquezas, na atividade do consumo e no recolhimento de impostos. Nós somos a parte mais interessada na superação da crise, e por isso temos de encontrar as alternativas agindo cada vez mais perto das esferas que definem a política econômica e os rumos do país.
Se haverá uma troca de governo, e haverá, indicam todos os prognósticos, nós temos o dever de discutir, formular e cobrar a aplicação de medidas que revertam o mergulho da economia e resgatem o crescimento. Não podemos ficar ausentes, assim, do ambiente em que as coisas está sendo decididas. Boicotar não é, neste momento, uma boa estratégia.
Diante de tudo o que ouvi e vi na jornada do 1º de Maio, faço uma reflexão de tudo que vi e ouvi. Estou convencido da importância de fazermos um sindicalismo pluripartidário, independente e autônomo!
No campo político, vamos continuar batalhando para eleger companheiros comprometidos com os trabalhadores. Os trabalhadores querem uma reforma partidária ampla, a manutenção e ampliação de direitos trabalhistas e previdenciários. No campo sindical, temos de avançar nas nossas campanhas salariais, lutar pela manutenção e geração de mais e melhores empregos, combater toda a forma de precarização do trabalho, defendendo a a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e combatendo o racismo.
As vozes do 1º de Maio requer dos dirigentes sindicais empenho redobrado para comandar uma luta que precisa ser feita com inteligência, habilidade e, sobretudo, honestidade de princípios.
Sergio Luiz Leite, Serginho, presidente da FEQUIMFAR e 1º secretário da Força Sindical