A estrada do terceiro mandato de Lula começou muito esburacada e com sinalizações herdadas defeituosas. Por causa disto o carro tem andado aos solavancos vencendo cada quilômetro com velocidade que deixa a desejar.
Foi o que aconteceu agora no 1º de Maio. Embora inferiores às expectativas das direções sindicais e insuficientes para compensar as perdas sofridas, os anúncios governamentais foram positivos.
Houve avanço na correção com ganho real do salário mínimo (que oferece, desde já, o piso para os ganhos reais em qualquer negociação de salários), avanço na desoneração das faixas inferiores do imposto de renda (até mesmo com pequeno abono em relação às faixas legais) e avanço no envio imediato ao Congresso Nacional da proposta de valorização permanente do salário mínimo. Outras medidas positivas, também anunciadas ou efetivadas, confirmam o andar da viatura na boa direção.
Nas comemorações do 1º de Maio pelo movimento sindical que aconteceram em todo o Brasil, em geral de forma festiva, o que se revelou fraco foi a manifestação unitária no Anhangabaú. Não fosse a participação entusiasmada do presidente Lula (que, com seu comparecimento valorizou o evento das centrais sindicais), a ausência das bases sindicais convocadas (com raras exceções, metalúrgicos da Capital e de Guarulhos, telefônicos de São Paulo e poucas outras) seria escandalosa.
O público assistente (que, a olhos vistos, era esmagadoramente não celetista) foi ao Vale para ver e ouvir um Lula incomodado pela concentração acotovelada de dirigentes e jornalistas no palanque. Diga-se, de passagem, que entre todos os que falaram, apenas o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, comemorou elogiosamente os 80 anos da CLT.
Para que não sofram a maldição do nome (Anhangabaú é, em tupi antigo, bebedouro de água do diabo) as direções sindicais escarmentadas devem urgentemente voltar a atenção para suas bases, garantindo aquela relação que é o atributo da própria relevância sindical.
João Guilherme, consultor de entidades sindicais de trabalhadores