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Corrigir os erros, evitar novas tragédias
sexta-feira, 25 de março de 2011
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A palavra jirau, na nossa língua, é tão velha quanto a República brasileira. É uma armação de madeira, tosca, para se dormir em cima, para secar alguma coisa, ou para assar alimentos. Jirau, hoje, passou a ser sinônimo de algo grandioso, mas mal feito.
Milhares de trabalhadores amontoados, condições climáticas detestáveis, trabalho duro, coexistência de diversos regimes de contratação, instalações modernas, mas péssimas relações de trabalho, repressão e humilhações, disputas sindicais resultando em falência de qualquer representação séria e estável: eis os ingredientes da trágica explosão de 16 de março.
A construção da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, é uma das maiores realizações do PAC; só o BNDES aprovou em fevereiro de 2009 o financiamento de 7,2 bilhões de reais, o maior valor já aprovado, para uma única obra. O consórcio que dirige o empreendimento sob a batuta da EDF – SUEZ ou Tractebel (francesa, e uma das maiores empresas de energia elétrica do mundo) agrupa vários gigantes brasileiros, entre eles a empreiteira Camargo Corrêa. Para retificar as margens do rio e assentar as bases da obra, foram agrupados mais de 20 mil trabalhadores com regimes diferenciados de contratação, de remunerações, e de condições de trabalho (“casas frias” e barracões, por exemplo).
As condições materiais não andavam a par com as relações entre os trabalhadores e os capatazes e a segurança (os “amarelinhos” ou “cachimbos”). Repetiu-se a velha prática brasileira de senzala computadorizada. No curso da obra, já haviam acontecido diversos incidentes graves, prenúncio do desastre de 16 de março.
Neste Carandiru da selva, uma faísca incendiou o pasto seco. Agora, além de os problemas criados em Jirau (que parou), há repercussões nas obras em Santo Antonio (também no rio Madeira), em Belo Monte (no rio Xingu, no Pará) e na construção da refinaria Abreu e Silva, em Pernambuco. Constatou-se o mal estar generalizado nas grandes obras em andamento.
A Força Sindical, a CUT (apesar das divergências locais), a UGT e as outras centrais procuram se posicionar correta e unitariamente em defesa dos trabalhadores fazendo se representar nas audiências em Porto Velho e negociando com a direção da Camargo Corrêa.
O deputado federal Paulinho da Força mobilizou a Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados e garantiu que ela, juntamente com as centrais sindicais, as procuradorias do trabalho, e fiscais do ministério do Trabalho e Emprego organizassem uma verdadeira correição nas condições de trabalho das grandes obras do PAC para evitar que se repitam os graves e lamentáveis episódios de Jirau, que prejudicam o desenvolvimento correto do Programa e agridem as relações trabalhistas civilizadas que desejamos que existam.
João Guilherme Vargas Neto, Assessor Sindical