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Desafio 2016: Manter empregos
segunda-feira, 25 de abril de 2016
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Companheiros, amanhecemos nessa quarta (20) com a divulgação da pesquisa trimestral com dados sobre o desemprego (PNAD – Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios), realizada pelo IBGE de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016. De acordo com todos os indicadores pesquisados, tivemos grandes perdas em relação ao último trimestre, mas muito mais graves em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Ou seja, nesse ano que passou acumulamos perdas seguidas de postos de trabalho, de carteiras assinadas, de rendimento médio mensal e, por consequência, de direitos trabalhistas, de seguridade social, de benefícios e de renda familiar. O alarmante índice apurado de 10,2% de desempregados no país é o pior desde 2012 quando a pesquisa começou a ser realizada. Hoje são 10,4 milhões de trabalhadores sem vaga e o que é pior, sem a perspectiva dela.
A se manter essa curva de declínio no emprego, esse ano será de condições extremas onde uma parte dos trabalhadores brasileiros estará em situação de miséria se amparando ou não em programas sociais ou sendo empurrados para a informalidade e outra parte se segurando em postos de trabalho ameaçados e com direitos reduzidos.
Os números divulgados são assustadores, mas não são surpreendentes. Como dirigente sindical, eu já esperava e nos preparamos.
Em 2015, a atividade do setor de mineração no país sofreu um golpe pela queda do preço internacional do minério de ferro que afetou diretamente as regiões extrativas do material e indiretamente as demais que extraem outros minerais pelo fato das grandes corporações terem seu lucro total montado a partir de todas as operações que exercem no território nacional. Assim, houve ondas de demissões no período e grandes operações do setor, como a “vedete” Minas-Rio da Anglo American, foram colocadas a venda, praticamente, logo após iniciarem as atividades. Essa queda no valor da commodity ferro inviabilizou, inclusive, a empresa de resgatar o investimento bilionário da implantação e a fez anunciar a venda de todos seus ativos no país, incluindo de fertilizantes, nióbio e níquel, cortando em todo o mundo cerca de 2/3 de sua mão de obra na tentativa de levantar liquidez e manter-se em setores mais estáveis.
Paralelamente em 2015, houve queda do valor de ações, redução na projeção de investimento e milhares de trabalhadores foram demitidos na Vale em várias localidades do país. Com isso, a empresa também pôs seus ativos de fertilizantes à venda.
Cumulativamente, no ramo de fertilizantes que nos diz respeito, especificamente, em Catalão e região, apesar do aumento constante das vendas e do consumo pelo setor agrícola, os preços mantêm-se em queda pela importação com subsídios federais na tributação dos insumos básicos que faz as misturadoras de adubos adquirirem no mercado externo aquilo que deveriam estar comprando das mineradoras locais que estão a poucos metros de suas unidades. Ao contrário, as vendas estão saindo das unidades das misturadoras próximas aos portos aonde o produto chega e sai sem agregar muita mão de obra e sem gerar divisas para as localidades extrativas.
Com esse cenário acontecendo, em 2015 nos preparamos aqui em Catalão e região.
Diante do cenário político calamitoso e do econômico em recessão no país, o Sindicato Metabase lançou em outubro passado a campanha salarial 2015/2016 com o título "Manter Empregos. Garantir Conquistas" que pautou a luta nesse período, como já diz o slogan, pela manutenção dos postos de trabalho e pela garantia dos benefícios já conquistados.
Com a mobilização da categoria e a luta sindical estamos conseguindo atingir nosso objetivo. Mesmo com as dificuldades citadas no setor de mineração, com a alta da inflação e a desvalorização da moeda causando perda do poder de compra, através de negociações com as empresas estamos mantendo as vagas de trabalho e, embora não tenhamos o volume de contratações de outros tempos, as demissões são ocasionais.
Embora, em Catalão e região, como citado, as operações da Anglo American e da Vale Fertilizantes estejam à venda e possíveis compradores possam intencionar na perda das conquistas e direitos conseguidos nos últimos anos, chocarão contra uma parede sólida de contenção formada pela união dos trabalhadores com o sindicato.
Assim, o movimento sindical não pode descansar. O papel do dirigente sindical como gestor e defensor dos direitos dos seus representados é se antecipar às ações dos gestores das empresas que defendem apenas seus próprios empregos e o lucro de seus patrões no mercado de ações. Ou seja, visando o crescimento de seu capital, os acionistas esperam sempre resultados positivos das corporações a cada dia. Assim, nesse cenário de crise, as empresas se preparam para reduzir custos e o emprego, os benefícios e os direitos trabalhistas são ameaçados.
Lembro-me daquele velho ditado popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O capitalismo é isso. A luta de forças com interesses conflitantes por “um lugar ao sol” ou por recursos ou pela própria sobrevivência.
Nessa crise, a sobrevivência com dignidade do trabalhador conflita com a sobrevivência do sistema onde o capital precisa ser sempre multiplicado. O pão de cada dia de muitos versus o lucro de poucos.
Resta a nós nos mantermos em prontidão e unidos na luta em defesa dos direitos conquistados. Trabalhadores lado a lado com entidades sindicais atuantes, preparadas e que antecipem as ações a serem tomadas para não perdermos nossas conquistas e empregos.
Diego Hilário é presidente do Sindicato Metabase de Catalão(GO) e região e secretário da CNTQ