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Dois discursos
quarta-feira, 14 de março de 2012
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Para conduzir a luta contra a desindustrialização agrupando todo o setor produtivista será preciso um discurso duplo? Um, orientado para nossa base de trabalhadores nas empresas e outro dirigido às lideranças, aos partidos políticos, à imprensa e à sociedade?
A pergunta tem sua razão de ser porque se nas empresas, principalmente na base industrial, combatemos a desindustrialização levando em conta seus resultados nefastos e os dramatizando, os trabalhadores – contrariamente à sua experiência e aos seus ganhos recentes – podem ser confundidos e passar a acreditar que a situação, sendo péssima, exige que sejam abandonadas as reivindicações salariais e a luta pelos direitos sindicais e trabalhistas.
Em alguns casos este problema já aflorou com iniciativas patronais retrógradas e agressões descabidas contra o movimento sindical (já tratei de dois casos, em São Paulo e em Catalão e menciono agora a situação no setor de máquinas no Paraná).
O próprio patronato, de acordo com os segmentos representados, apresenta pontos de vista diferentes com diferentes iniciativas materiais: o setor comercial já utiliza o “impostômetro”, o setor têxtil organizou o “importômetro” e, recentemente, o setor de máquinas criou o “desempregômetro”. Destes três, por exemplo, o que mais se aproxima de nosso discurso é o último.
Há uma diferença temporal e de desfecho entre a luta por salários e a luta contra a desindustrialização; quando se trata de salários e direitos, o desfecho é imediato e decisivo (sim ou não). A luta contra a desindustrialização projeta-se no tempo, diz respeito ao amanhã e seus resultados são relativamente variáveis, já que não existe “bala de prata” contra o problema, exceto a baixa dos juros, cujos efeitos, mesmo assim, são indiretos.
Para aperfeiçoarmos o(s) discurso(s) devemos reconhecer que a luta contra a desindustrialização se trava em uma conjuntura positiva (do ponto de vista dos trabalhadores, do emprego, dos salários, do consumo e dos investimentos), em setores definidos e com efeitos variados, região a região, vacinando-nos contra afirmações vazias, demagógicas ou generalizadas que podem alimentar uma oposição política desorientada que, em geral, mais sustenta o tema do “Custo Brasil” e a quebra dos direitos do que a luta unificada do setor produtivista.
João Guilherme Vargas Neto, Consultor Sindical