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Lincoln e suas lições
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
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Em uma das mais conhecidas anedotas de Lincoln das muitas com que apimentava seus discursos, ele contava, a respeito da disputa entre dois sitiantes, que a cerca que os separava era tão retorcida que sempre que um porco se enfiava por um buraco, reaparecia do mesmo lado por onde se havia metido.
O barata-voa político tem produzido situações semelhantes.
Eu mesmo, para complicar as coisas, desenhei a árvore de 44 (quatro elevado à quarta potência) galhos, ou seja, 256 galhos, alguns secos, muitos entrelaçados.
São quatro os resultados pretendidos por que tenta interromper o mandato presidencial ou neutralizar a força da presidência: impeachment, renúncia, cassação e enfraquecimento crônico. Para se obter isso são quatro as instituições diretamente envolvidas: Câmara dos Deputados (e Senado), STF, TSE e TCU (coadjuvadas pelo quarto poder, o da mídia e pelo quinto poder, o da Lava-Jato). Os maiores alvos individuais do processo são, também, quatro: Dilma, Temer, Eduardo Cunha e o “alvo oculto”, Lula. E, por fim, são quatro os eventuais grandes beneficiários com suas motivações: Aécio, Temer, Serra e Alckmin.
Por onde se queira começar a desenhar a árvore de procedimentos, instituições, alvos e beneficiários, possivelmente chegaremos a situações em que o porco sai do mesmo lado que entrou.
Há um paralelismo impressionante entre o travamento do impeachment presidencial (em sua artificialidade e golpismo) porque as forças políticas não se acertam sobre a substituição e suas consequências e as vacilações a respeito do fim a ser dado ao presidente da Câmara, que tem que ser antecedido pela escolha de um substituto legal e formal que atenda às ambiguidades do quadro partidário.
Enquanto isso a economia está travada, em recessão, e as três cabeças do monstro – desemprego, juros altos, inflação – fazem o povo trabalhador ficar apreensivo e a opinião pública ficar desarvorada, assistindo bestializada.
E é o mesmo Lincoln, agora seriamente, a dizer que ninguém pode enganar todo mundo o tempo todo.
João Guilherme, consultor sindical