Levando-se em conta o pandemônio na vida dos brasileiros e modificando um dito leninista, quero recomendar às direções sindicais, em particular do setor industrial, que deem um passo para trás em direção às suas bases; menos Brasília e menos lives entre si e mais o próprio quintal e o acesso aos trabalhadores.
Preocupa-me a situação nas empresas fabris onde os trabalhadores formais – associados ou não ao sindicato – enfrentam hoje dificuldades sem precedentes no curso da produção.
A doença entrou nas fábricas em uma escala nova que chega a desorganizar e paralisar a produção nas pequenas e médias.
Tomemos o exemplo do oeste do Paraná onde a infecção maciça nos trabalhadores em frigoríficos espraiou-se por toda a sociedade e fez com que inúmeras cidades passassem a ser, no estado, os polos da doença com contaminações e mortes e as empresas encerrassem suas atividades.
A volta às bases é hoje necessária para a exigência de um controle sanitário mais estrito com protocolos rígidos articulados com as empresas e supervisionados pelos sindicatos e os agentes de saúde. Salvar vidas de trabalhadores na produção fabril é a primeira tarefa sindical relevante desta volta (mesmo virtual) às bases.
A segunda motivação forte para a volta às bases é a defesa do emprego. Em um primeiro momento, mas com perdas evidentes, a MP 936 serviu a este objetivo. Atualmente, mesmo com a sanção presidencial com vetos da conversão em lei da medida provisória, pouca ou nenhuma vantagem adviria se não houver imediatamente a prorrogação dos prazos de vigência das suspensões ou reduções de salários e jornadas com manutenção dos empregos.
Os sindicatos precisam agir localmente para garantir ao máximo os empregos que se encontram ameaçados pelo avanço da depressão econômica e pelo egoísmo estratégico das empresas.
A volta efetiva às bases procura também defender todos os direitos dos trabalhadores – em particular os direitos sindicais. Se a presença do sindicato não for efetiva e eficiente, mesmo por meios virtuais, em pouco tempo o pandemônio causado pela pandemia fará que a nossa direção retroceda não um passo, mas uma distância a perder de vista.
João Guilherme é consultor de entidades sindicais de trabalhadores