Um livro – Biografia do Abismo – de dois autores – Felipe Nunes e Thomas Traumann – publicado recentemente procura mostrar como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil.
Para os autores o antagonismo induz à polarização, primeiro no terreno das disputas eleitorais (o que é normal), depois radicaliza no “nós contra eles”, calcifica-se (tornando-se permanente) e transborda para a sociedade acicatada pelo bolsonarismo.
Este transbordamento é analisado pelos autores na sala de aula, nas relações sociais e familiares, no consumo (com o boicote a empresas e produtos), nos esportes, na religião com a reiterada busca do dissenso.
Embora o tratamento dos temas pelos autores seja abrangente e baseado em várias pesquisas em nenhum momento o fenômeno é reconhecido e apontado no movimento sindical dos trabalhadores, que passa imune por todo o texto. Uma única menção aparece quando em uma pesquisa em ambiente de trabalho revela-se que 77% dos entrevistados disseram preferir um ambiente com pessoas “dos dois lados/tudo misturado” sem conflitos.
Como se trata de buscar a normalização da vida nacional sem calcificações ou transbordamentos agressivos, a responsabilidade do movimento sindical cresce, como ativo para o bom cumprimento desta meta.
A rigor, no movimento sindical dos trabalhadores, existem as vezes disputas eleitorais ferozes (que são raras), mas os únicos aspectos de uma polarização abusiva são dados pelas empresas que estimulam entre os trabalhadores as famosas “cartas de oposição” aos sindicatos, iniciativas que têm sido repudiadas e denunciadas pelo próprio Ministério Público do Trabalho e pelas direções sindicais dos trabalhadores que se mantêm unidas, refletindo a unidade de seus representados.
João Guilherme Vargas Netto, Consultor Sindical de Entidades de Trabalhadores e membro do Diap