Josinaldo José de Barros (Cabeça),
Presidente
São chocantes os números relativos à renda dos brasileiros. A situação é tão precária que nem parece real. Mas, infelizmente, é.
Vou citar aqui o próprio IBGE. Segundo o Instituto, 38,8 milhões de brasileiros têm renda de até um salário mínimo, ou seja, R$ 1.212,00. Desses, 9,6 milhões ganham até meio salário mínimo, ou seja, R$ 606,00.
Quem ganha salário mínimo talvez consiga fazer três refeições diárias, no prato raso. Mas quem recebe R$ 606,00 está passando fome. A cesta básica do Dieese em abril, na cidade de SP, ficou em R$ 803,99. A cesta medida pelo Procon-SP (com mais itens) chegou a R$ 1.209,71 – aumento de 6,38% sobre março.
Segunda, dia 6, o jornal O Globo tratou na manchete principal a questão da renda: “Trabalhadores que ganham até um salário mínimo chegam a 38%”. O jornal registra que no governo Temer o porcentual era de 30,09%. Hoje, pra sermos exatos, está em 38,22%.
Importante mostrar a fonte desses números. No caso de O Globo, o jornal se baseou em levantamento da Tendências Consultoria, um escritório ligado ao setor empresarial e dirigido por Maílson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda de 1988 a 1990.
Entre 2003 e 2012, a massa salarial cresceu em relação ao PIB, de 44,4 pra 46,8%. Na época, nós, metalúrgicos, conseguimos aumento real por 13 anos seguidos. Mas a situação mudou: a renda salarial dos brasileiros caiu 8,9% só no ano passado. Ironicamente, os ricos ficaram ainda mais ricos na pandemia.
Em nossa última campanha salarial, conseguimos repor a inflação pelo INPC, que havia ficado em 11,08%. Também conseguimos Abono de 26% sobre os salários. Ocorre que, devido ao aumento dos alimentos e outros produtos, esses ganhos são logo consumidos pela inflação.
Lamentavelmente, o Estado brasileiro abriu mão de definir políticas de salário e renda. Este ano, Bolsonaro conseguiu negativar o salário mínimo. Pela primeira vez em 28 anos o reajuste do mínimo perdeu pra inflação. Observe que 60% dos nossos aposentados recebem um salário mínimo.
Neste ano eleitoral, observo que os pré-candidatos têm falado pouco sobre salários. É um erro porque a questão salarial precisa estar no centro de um projeto nacional de desenvolvimento e crescimento continuado. Aos que criticam a presença estatal, eu lembro: a Alemanha tem a melhor estrutura salarial do mundo. Não por acaso, tem também o melhor padrão de vida do planeta.
Seja Ciro, seja, Lula, seja Tebet, seja Janones, seja lá quem for, precisamos cobrar dos candidatos o compromisso de colocar a recuperação da massa salarial como prioridade urgente. O presidente da República assume em 1º de janeiro. Nessa mesma data, reajusta o salário mínimo. Está aí uma oportunidade real de começar a melhorar o padrão salarial dos brasileiros, da ativa e dos aposentados. Escolha candidatos que tenham compromisso com essa política. Só depende de você!