Nós brasileiros temos experiência em crises – e bota experiência nisso. Cada época é uma situação que parece ainda pior que a anterior. De vez em quando, o rumo muda e a sensação é que o País está engrenando. Mas aí desanda de novo. Porém, nada como 2020. Ao mesmo tempo vivemos crise econômica, crise sanitária, crise política e crise ambiental. Atingidos em muitas frentes. Uma coisa não muda: o trabalhador e a trabalhadora são a engrenagem da economia. Eles produzem e consomem. À medida que perdem poder de compra ou perdem o emprego, deixam de consumir. A consequência é que o País mergulha na recessão. Pior para todos! Para os pobres e até para os ricos.
O cenário é alarmante. O desemprego bateu recorde durante a pandemia. São 14 milhões de pessoas sem ter de onde tirar o sustento. Os alimentos básicos, aqueles que os pobres mais consomem, como arroz, feijão, óleo, leite e carne, foram os que mais subiram. A energia elétrica está mais cara e os combustíveis, também. É muita gente sem emprego, sem renda básica, empurrados para a informalidade, com as contas cada vez mais caras. Quem estava vivendo com auxílio emergencial não sabe o que vai ser em janeiro porque não terá nem os R$ 300,00. É a pobreza e a miséria batendo à porta. E isso tudo com aumento preocupante dos casos de Covid-19! A esperança é a vacina, que está mais perto. É assim que terminamos 2020.
Mas é fato que não haverá vacina para todos no Brasil no primeiro semestre de 2021. Infelizmente, há risco de agravamento da nossa múltipla crise. A pandemia é um problema mundial, que causou um baque na economia de todos os países. Porém, as nações desenvolvidas devem vacinar mais da metade de seus habitantes ainda no primeiro semestre, o que já está ajudando na retomada de suas economias. Nós brasileiros, que já tínhamos as nossas crises domésticas quando a pandemia começou, sofremos dobrado porque não temos um plano de vacinação muito claro.
Os ricos demoram mais a sentir os efeitos do empobrecimento da população, mas eles chegam. Quando o trabalhador perde renda, deixa de consumir. À medida que deixa de consumir, cai o lucro das empresas, o que leva a mais redução de emprego e renda. Em consequência, o governo arrecada menos impostos e, por sua vez, tem menos capacidade de investir no País. É um bumerangue, que volta contra o próprio sistema capitalista. E é nesta a situação que nos encontramos: uma sinuca de bico. A vacina é a nossa esperança, mas ela não chegará a todos por aqui rapidamente e muito menos resolverá nossos problemas econômicos e sociais. Não há mágica. Temos de nos preparar para dias difíceis que ainda virão sem perdemos a esperança nem deixar de lutar. Lutar por uma sociedade mais igualitária, mais inclusiva e mais sadia.
Edson Dias Bicalho,
secretário geral da FEQUIMFAR e
presidente do Sindicato dos Químicos de Bauru e Região