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Um retrato
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
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Em maio de 1964 com o movimento sindical ferozmente reprimido pelo golpe militar, o Instituto Cultural do Trabalho – entidade criada e apoiada pelo reacionário sindicalismo norte-americano sob a tutela da Guerra Fria- publicou a “Radiografia da liderança sindical paulista” (deveria ser “paulistana”, como o próprio texto explica).
A pesquisa, realizada por alunos do ICT no segundo semestre de 1963, procurou ouvir os presidentes das 96 organizações sindicais trabalhistas na cidade de São Paulo, entre federações, sindicatos e associações profissionais; 18 presidentes recusaram-se a responder. A média de idade encontrada foi um pouco maior que 43 anos, com um intervalo de 27 a 62 anos.
Em resumo, segundo o diretor do ICT, “a maioria dos pesquisados não teve preparação adequada às complexas funções e delicadas responsabilidades assumidas; 61,5% dentre eles jamais frequentaram cursos sobre sindicalismo; mais da metade (51,3%) nunca leram livro algum a propósito desse assunto; e 66,7% nunca escreveram, nem mesmo nas publicações editadas por seus Sindicatos. Os sucessos alcançados e os bons serviços prestados às respectivas categorias profissionais se explicam pela inteligência e pelas qualidades inatas de cada um”.
Embora o relatório da “Radiografia” exale o mau cheio do anticomunismo (os dirigentes comunistas e de esquerda são chamados de “vermelhos”, assim entre aspas) e não consiga afastar de si a pecha de investigação policial, os presidentes que responderam à pergunta sobre o maior líder sindical brasileiro, cravaram os comunistas Oswaldo Pacheco, Dante Pelacani e Roberto Morena e outros de esquerda; de todos o relatório se encarregou de expor a folha corrida.
A “Radiografia” incluiu algumas pegadinhas aos presidentes, tais como: “Qual o número aproximado de trabalhadores existentes no Brasil?” e “Quantos sindicatos, federações e confederações existem, aproximadamente, no Brasil?”.
A essas perguntas houve uma forte recusa de respostas; dos que responderam, 95% erraram a primeira e 70% a segunda.
Mas, e ai devemos valorizar ao máximo as respostas, 56,4% opinaram pela necessidade de uma “central sindical” e 63,3% foram favoráveis à greve de solidariedade.
Para quem sabe ler nas entrelinhas e conhece a história, a “Radiografia” é um retrato significativo da liderança sindical paulistana às vésperas do golpe militar.
João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical