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Avanços, retrocesso, conscientização e luta
segunda-feira, 4 de julho de 2016
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Nos últimos dias, nas redes sociais, fomos surpreendidos por uma imagem que muito nos entristeceu. É a foto de uma garotinha, sentada numa mesa ao lado de outra mesa com os seus coleguinhas, onde estão todos tomando lanches, num local que parece ser uma escola de educação infantil.
O que muito nos frustra, e nos deixa profundamente amargurados, é que essa garota é uma criança negra, uma pequena menininha sentada sozinha numa mesa, triste e isolada e ao seu lado, em outra mesa, estão mais crianças, todas elas brancas e sorridentes, com seus lanches e doces coloridos…
Essa foto foi registrada na África do Sul, mas não na África do Apartheid, que ficou no século passado, mas numa África do Sul atual, uma nação que teve toda uma transição elogiada, pelo não revanchismo, pela coexistência racial e social, idealizada e conduzida pelo mestre Nelson Mandela.
Quando uma imagem como essa, que revolta e entristece milhões de pessoas em todo o mundo, chega até nós, isso nos remete a um retrocesso político e social, seja no Brasil, na África, Europa, e demais países de todo o Mundo.
Vivemos um momento de transição, um tempo de mudanças, em que muitas destas, em contraste com os avanços do passado, conseguem deter e retroceder uma série de conquistas e transformações, que muitos benefícios trouxeram à nossa sociedade.
A extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos pelo atual governo, comprova esse retrocesso e referenda toda a nossa indignação.
Nossas conquistas no campo da Igualdade Racial, se refletem numa história de lutas, arduamente travadas ao longo de séculos para a conquista de direitos.
Muito trabalho, estudos, oficinas, pesquisas, reuniões, fóruns e conferências, que nos trouxeram e exemplificaram agendas positivas, junto ao reconhecimento de políticas públicas, em defesa da igualdade.
Sendo assim, conquistamos um pequeno, mas importante, espaço e, visto que em nossa sociedade poucos ainda conhecem e possuem contato com professores, doutores, empresários, chefes e diretores negros!!! Em que se comprove os últimos números apresentados pelo IBGE, cuja discrepância nos indicativos, revelam que, apesar dos negros representarem mais da metade da população brasileira, ou seja, 54%, muito ainda precisa ser feito, pois, a grande parcela dos pobres é negra. Os números exemplificam ainda mais, quando nos remetemos que 60,8% da população carcerária é jovem, em relação a critérios de raça e cor, existem mais negros que brancos presos no país, com números de 292.242 negros presos contra 175.536 brancos. Quanto mais cresce a população encarcerada, mais deles são negros. Documentos levantados pela ONU sobre Direitos das Minorias em setembro de 2015, também demonstram que a maioria da população pobre continua sendo a Negra, de 17 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza no Brasil, e reiteram que 70% são afro-brasileiros e a média salarial é 2,4 vezes menor que da população branca, e indica também, que 80% dos analfabetos são negros, e 64% dos jovens negros não chegam a completar a educação básica.
Quando conquistamos a representatividade e importância de um Ministério, em 2003, para os Direitos Humanos, as Políticas de Promoção da Igualdade Racial e as Políticas para as Mulheres, soubemos que tínhamos conquistado um pequeno avanço, com o compromisso de instituição de políticas públicas contrárias a segregação e com o intuito de aplicar a igualdade de acesso ao ensino superior e ao serviço público, em justificativa e compensação aos anos de diferenças, segregação, exclusão e preconceitos.
Necessitamos um estado brasileiro compromissado, perante ordenam no âmbito jurídico nacional e internacional, de que se dê continuidade às políticas públicas.
Temos urgência de que haja um maior zelo, junto à manutenção de um ensino de qualidade e contínuo, em que pese o alto número de abandono precoce, de jovens negros, nas escolas, e face de uma situação social, ora, deficitária, nas comunidades periféricas e marginalizadas.
A criminalização, a marginalização contribui para o afastamento da população negra dos bancos das universidades e do mercado de trabalho, ou seja, se entrar na faculdade já é difícil, quem dirá o estudante negro se manter no curso superior.
A foto que citamos no início do texto mostra que nossa luta é permanente, a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, nos incentiva a reivindicar ainda mais por uma sociedade mais justa, harmônica e igualitárias.
E mais do que nunca, precisamos reafirmar os nossos valores e compromissos, seja no Brasil e no Mundo.
Por tudo isso, devemos sempre reforçar os nossos clamores: Não ao Retrocesso, Não à Discriminação e não à Segregação!!!
Francisco Quintino,
Presidente do Sindicato dos Químicos de Rio Claro,
Coordenador do Departamento de Promoção Igualdade Racial da FEQUIMFAR e
Presidente do INSPIR pela Força Sindical