
Nos EUA, UAW denuncia prática antissindical na Volkswagen – Foto: People´s World
O sindicato United Auto Workers (UAW) entrou com uma denúncia federal por prática antissindical (Unfair Labor Practice, ou ULP) contra a Volkswagen, acusando a montadora alemã de minar ilegalmente as negociações com este em sua fábrica de montagem em Chattanooga — apenas um ano após os trabalhadores conquistarem uma vitória histórica ao votarem pela sindicalização.
A denúncia, registrada no Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB, na sigla em inglês), afirma que a Volkswagen violou a legislação trabalhista dos EUA ao anunciar unilateralmente planos de cortar um turno de produção sem antes negociar com o UAW.
Segundo o sindicato, essa medida ameaça centenas de empregos na única fábrica da Volkswagen nos EUA onde os trabalhadores recentemente se sindicalizaram — um marco no movimento trabalhista que tenta organizar o Sul dos EUA, historicamente antissindical.
Traição após a vitória
Em abril do ano passado, os trabalhadores da Volkswagen em Chattanooga votaram de forma esmagadora — 2.628 votos a favor contra 985 — pela entrada no UAW, marcando a primeira grande vitória de organização sindical em uma fábrica estrangeira no Sul. Essa conquista veio após duas tentativas fracassadas em 2014 e 2019, superando forte oposição de governadores republicanos, lobistas corporativos e consultores antissindicais.
Os trabalhadores celebraram a vitória como uma chance de garantir os mesmos salários e benefícios que os membros do UAW nas “Três Grandes” (Ford, General Motors e Stellantis) conquistaram na greve “Stand Up” de 2023 — incluindo aumentos salariais de 25%, fim das categorias salariais, reajustes com base no custo de vida, melhores aposentadorias e proteções contra fechamento de fábricas.
Mas, em vez de negociar de boa fé, o sindicato afirma agora que a Volkswagen está travando as negociações enquanto se prepara para cortar empregos.
“A Volkswagen é a segunda maior fabricante de automóveis do mundo, mas a grande maioria dos trabalhadores da VW nos EUA relata dificuldades financeiras extremas, devido ao fracasso da empresa em oferecer planos de saúde comparáveis aos oferecidos por fabricantes sindicalizados dos EUA, mesmo sendo menos lucrativos”, afirmou o UAW. “Isso vai acabar agora.”
Lucros acima dos trabalhadores
A denúncia ocorre poucos dias após a Volkswagen divulgar um lucro de US$ 20 bilhões em 2024, tornando-se a segunda montadora mais lucrativa do mundo. No entanto, em vez de reinvestir nos trabalhadores, a empresa está transferindo a produção para o México, onde pode superexplorar os trabalhadores automotivos — pagando-lhes apenas US$ 7 por hora para fabricar veículos vendidos por dezenas de milhares de dólares nos EUA.
“A Volkswagen está explorando mão de obra barata no México”, disse o presidente do UAW, Shawn Fain, em uma declaração contundente. “Agora, querem cortar turnos no Tennessee justamente antes da entrada em vigor de tarifas automotivas esperadas — tentando escapar da responsabilidade e ainda lucrar.”
O UAW notificou o governo Trump sobre o que chamou de conduta “antissindical, antioperária e antiamericana” da Volkswagen. O sindicato argumenta que a decisão repentina da empresa de reduzir turnos é retaliação pela sindicalização dos trabalhadores — uma violação da lei trabalhista federal, que exige negociação coletiva para mudanças significativas no ambiente de trabalho. Resta saber se o governo Trump, notoriamente antissindical, tomará alguma atitude em defesa dos trabalhadores.
Histórico de repressão sindical
Esta não é a primeira vez que a Volkswagen enfrenta acusações de repressão sindical em Chattanooga. Durante a campanha de sindicalização do ano passado, o UAW entrou com diversas queixas no NLRB, alegando que a empresa:
- Realizou reuniões obrigatórias para dissuadir os trabalhadores de se sindicalizarem.
- Espalhou desinformação sobre os “riscos” de aderir ao sindicato.
- Permitiu que consultores antissindicais assediassem funcionários pró-sindicato.
Agora, com as negociações contratuais estagnadas, os trabalhadores temem que a empresa esteja propositalmente adiando os acordos enquanto planeja demissões.
“Votamos pelo sindicato porque queríamos salários justos, proteção à segurança e estabilidade no emprego”, disse Victor Vaughn, trabalhador da Volkswagen e organizador sindical. “Mas, em vez disso, a empresa está tentando cortar nossos empregos antes mesmo de termos um contrato.”
A luta em Chattanooga faz parte de uma batalha maior entre trabalho organizado e capital organizado, à medida que o UAW continua seus esforços para sindicalizar 150.000 trabalhadores automotivos no Sul — onde montadoras estrangeiras como Mercedes, Hyundai e Toyota operam fábricas não sindicalizadas com salários mais baixos.
“Os trabalhadores da Volkswagen provaram que os trabalhadores do Sul também querem sindicatos”, afirmou Fain. “Agora, vamos lutar com tudo para garantir que a empresa respeite essa escolha.”
“Isso não é só sobre Chattanooga”, disse Doug Snyder, funcionário da oficina de carroceria da Volkswagen. “É sobre se as corporações podem continuar explorando os trabalhadores no Sul — ou se finalmente teremos nossa parte justa.”
Disputa no NLRB
O NLRB agora irá investigar as denúncias do UAW. Se a Volkswagen for considerada culpada, poderá ser obrigada a reintegrar os empregos cortados, reverter as mudanças unilaterais e compensar os trabalhadores afetados.
Atualmente, a integrante do NLRB Gwynne Wilcox — que havia sido ilegalmente demitida por Trump no início deste ano — foi reintegrada ao conselho como o terceiro membro essencial dos cinco exigidos para atingir quórum nas decisões sobre disputas trabalhistas. Isso significa que, no momento, há uma maioria pró-trabalhador no conselho.
Trump apelou contra a decisão que reintegrou Wilcox. O recurso pode acabar sendo analisado pela Suprema Corte, conhecida por sua hostilidade aos interesses trabalhistas. Enquanto isso, Wilcox pode participar das decisões das queixas que chegam ao conselho.
Com os ataques do governo Trump às agências federais, incluindo o NLRB, ainda não está claro o quão eficaz será o órgão para garantir um resultado justo aos trabalhadores. Recentemente, a administração Trump nomeou Crystal Carey, advogada do escritório antissindical Morgan Lewis, como próxima procuradora-geral do NLRB — seu principal cargo de fiscalização.
Advogados da Morgan Lewis estiveram envolvidos em algumas das maiores disputas trabalhistas da história recente, desde a greve dos controladores de tráfego aéreo em 1981, até os esforços do McDonald’s para resistir ao movimento “Fight for $15” — sempre ao lado dos patrões. Um dos maiores clientes da Morgan Lewis é a Amazon, que atualmente move uma ação para declarar o NLRB inconstitucional.
Cameron Harrison é ativista sindical e organizador da Comissão Trabalhista do Partido Comunista dos EUA (CPUSA).
Texto traduzido do People´s World por Luciana Cristina Ruy
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