As crônicas da escravidão registram que em um mesmo eito de café de uma das fazendas do senador Vergueiro trabalhavam pessoas com, ao menos, cinco tipos diferentes de relação de trabalho: escravo, ex-escravo, camarada, colono e assalariado. A heterogeneidade da força de trabalho é uma constante do capitalismo em todas as suas épocas.
Mas o que acontece hoje no mundo (exceto na China) é esta desorganização histórica elevada ao cubo, com o multiplicador do desemprego maciço e da informalidade crescente.
A multinacional Mercedes Benz em sua fábrica de São Bernardo pretende agravar essa situação demitindo 3.600 metalúrgicos, 1.300 dos quais temporários e terceirizando quase toda a sua cadeia produtiva.
E a isto chama “reestruturação produtiva”, como transparece na matéria assinada por João Sorima Neto, no Globo de segunda-feira, (19/09), “para driblar a crise”.
A reação dos metalúrgicos e do sindicato do ABC não tem sido a mesma que tiveram os colegas de São José dos Pinhais e o sindicato de Curitiba ao enfrentarem por duas vezes com greves longas os arreganhos da multinacional Renault. Ela foi obrigada a recuar de suas maquinações “reestruturantes”, até mesmo as antissindicais.
Esperemos que a habilidade em negociação dos paulistas preserve, pelo menos, os direitos dos trabalhadores que percam seus empregos.
Como complemento deste texto conclamo à solidariedade aos enfermeiros e às enfermeiras, aos técnicos de saúde, aos auxiliares e às parteiras em sua luta (agora defensiva) para garantir o piso profissional de suas profissões que é lei. Eles vão à luta com seus sindicatos, entidades profissionais e conselhos para obter que o Congresso Nacional reafirme sua decisão e confirme a validade do diploma legal promulgado corrigindo eventuais erros e insuficiências porventura existentes.
João Guilherme Vargas Netto é membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo