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Unidade de ação: o diferencial brasileiro na organização sindical
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
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Mais que expor a disputa entre duas teses – a que vê na valorização do mínimo um elemento indutor do crescimento, e outra, que focaliza o controle de gastos – o episódio da votação do salário mínimo ressaltou para o mundo um diferencial brasileiro: a ação integrada entre as seis centrais sindicais existentes no País.
Nada de mais, não fosse a dificuldade de encontrar exemplo similar no planeta, o que há anos desperta a atenção de sindicalistas de todos os continentes, tal a forma com que as diferenças orgânicas e doutrinárias dão lugar a um pragmatismo que vem dando certo.
A admiração dos estrangeiros com a unidade de ação entre as centrais sindicais brasileiras tem sido manifestada em encontros internacionais e ratificada em eventos como o Fórum Social Mundial, quando, invariavelmente, o assunto é tema que desperta o interesse das lideranças seja de nações ricas como pobres.
A história de intensa disputa entre diferentes correntes, ocorrida na formação das centrais, no final da década de 70, e a superação da fase de revanchismo entre elas, no limiar do Terceiro Milênio, deu provas de que no Brasil, a globalização também se fez sentir na organização sindical. De sorte que hoje, ao ver o levante árabe contra as ditaduras e o fundamentalismo religioso, constatamos que os trabalhadores enfrentaram a ditadura militar desde a metade dos anos 60, intervieram na construção de uma Constituinte renovadora, em 1988, e ingressaram na década de 90 respirando os ares democráticos.
A eleição de um autêntico representante deste período para a presidência da república consagrou a escalada do movimento sindical em direção ao centro de decisões políticas do País. Os dois mandatos de Luis Inácio Lula da Silva – o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e fundador da Central Única dos Trabalhadores (Cut) foi uma afirmação de que os trabalhadores haviam entendido que era preciso ir além do mero movimento reivindicatório. A seguir, em 1991, era fundada a Força Sindical, e com ela a era do pragmatismo no movimento sindical brasileiro.
Independente do índice que será aprovado pelo Congresso Nacional, a grande marca estará na integração entre as centrais, cuja ação já efetivamente influi na política nacional, como é fato a redução do IPI da chamada linha branca, a correção da tabela do imposto de renda e as políticas setoriais adotadas quando o mundo ingressava numa crise sem precedentes na história do capitalismo.
Tal solidez permitirá que o sindicalismo brasileiro persista em questões fundamentais como a redução da jornada de trabalho – sem redução salarial – e a afirmação da tese do Trabalho Decente, aquela cujos conceitos vão além da reivindicação salarial, mas consideram que a realização sadia do trabalho depende de um conjunto de fatores que incluem meio ambiente de trabalho e meio ambiente. Esse é o diferencial brasileiro.
Nilton Neco, secretário de Relações Internacionais da Força Sindical e presidente do Sindec/Poa