
Chico Buarque canta: Acorda amor; música
Nos 40 anos de redemocratização brasileira, vale lembrar as músicas que, driblando a censura, conseguiram relatar o período por meio de indiretas e metáforas.
Em Acorda Amor, Chico Buarque aborda a dura repressão policial e o tratamento dado a ativistas e pessoas comuns, equiparadas a “ladrões”, infratores da lei e da ordem.
Ele também retrata a triste realidade dos desaparecidos da ditadura:
“Depois de um ano eu não vindo; Ponha a roupa de domingo; E pode me esquecer.”
Muitos não voltaram e permaneceram para sempre como uma ferida aberta na história. Mas nunca serão esquecidos.
Acorda amor
(Composição: Leonel Paiva e Julinho Da Adelaide/1974)
Intérprete: Chico BuarqueAcorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrãoAcorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrãoSe eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecerAcorda, amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre, o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção!Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa, não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)Fonte: Centro de Memória Sindical
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