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Memória Sindical
1905 ou “O Ensaio Geral”
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Memória Sindical
A rápida industrialização da Rússia no final do século XIX levou à formação de um operariado urbano e, consequentemente, a um expressivo aumento dos movimentos socialistas. Esta nova classe reivindicava reformas democráticas, ao passo que a nobreza feudal e o czar procuravam manter o sistema político de 1547, quando se iniciou o czarismo. Sob o império do czar, a população vivia em uma situação de extrema miséria, com violência e repressão política.
A Guerra Russo-Japonesa
O desempenho desastroso, e os gastos excessivos, das forças armadas russas na Guerra Russo-Japonesa, entre 1904 e 1905, foi o estopim para a Revolução.
A guerra foi motivada por uma disputa entre o Império do Japão e o Império Russo pelo domínio dos territórios da Coreia e da Manchúria. O Japão, apesar de atravessar uma crise, venceu e se consagrou como potência. Por outro lado, a derrota russa evidenciou a decadência do regime czarista e deflagrou uma série de greves e protestos populares organizados pelas líderanças socialistas.
O “Domingo Sangrento”
Neste contexto foi organizada uma manifestação pacífica de um milhão e meio de pessoas, liderada pelo padre ortodoxo Gregori Gapone, com destino ao Palácio de Inverno do czar, em São Petersburgo, no dia 22 de janeiro de 1905, um domingo.
O objetivo era entregar ao czar Nicolau II uma petição reivindicando direitos como reforma agrária, tolerância religiosa, fim da censura, a presença de representantes do povo no governo e melhores condições de vida.
Insensível às reivindicações, o grão-duque Sergei Alexandrovitch ordenou à guarda afastar o povo do palácio e dispersar a manifestação. Como a massa resistiu, a guarda disparou contra a multidão, transformando aquela manifestação pacífica em um massacre.
*Carolina Maria Rui é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical
A Revolução
Este trágico episódio intensificou a onda de protestos. Em São Petersburgo, mais de quatrocentos mil trabalhadores entraram em greve logo após o “Domingo Sangrento”, influenciando outros centros industriais. Em 13 de outubro já se contava mais de dois milhões de trabalhadores em greve.
A Revolta do “Encouraçado Potemkin”
Em junho, no encouraçado Potemkin, navio de guerra da frota russa com base no mar Negro, a tripulação revoltou-se contra as péssimas condições em que viviam e por ter sido informada que seria enviada para lutar contra os japoneses. Aquele motim mostrou que parte das forças armadas já não era subserviente aos desmandos da monarquia (em 1925, o cineasta Serguei Eisenstein retratou a revolta no filme O Encouraçado Potemkin).
Os Sovietes de São Petersburgo
Em 13 de outubro de 1905 foi instalado o “Soviete de Representantes Operários”, em São Petersburgo, para apoiar e organizar os trabalhadores. O Soviete chegou a ter de quatrocentos a quinhentos membros, eleitos por aproximadamente duzentos mil trabalhadores e representando cinco sindicatos e 96 fábricas. Com maior influência no grupo, os bolcheviques assumiram o comando.
Contudo, a greve geral de outubro daquele ano ocorreu espontaneamente, sem a intervenção do Soviete. E, sob o medo de repressão, os grevistas voltaram ao trabalho.
A Duma
Ainda naquele mês de outubro de 1905, para tentar contornar a situação, o czar Nicolau II lançou o “Manifesto de Outubro”, que viabilizou a criação de uma Duma (Parlamento) nacional e a existência de partidos políticos.
Sua demonstração de “boa vontade”, todavia, duraria pouco. Após o término da guerra contra o Japão, as tropas russas retornaram ao país e, a mando do soberano, reprimiram os movimentos. Líderes dos movimentos populares, como Vladimir Ilitch Lenin e Leon Trótski, foram presos ou exilados, e os Sovietes colocados na ilegalidade. As promessas feitas pelo “Manifesto de Outubro” foram deixadas de lado, com exceção da Duma, que continuou a funcionar.
Mas os acontecimentos de 1905 assinalaram o início da derrocada definitiva do czarismo. Lenin chamou aquele ano de “Ensaio Geral”, uma espécie de prelúdio da Revolução Russa de 1917, que fortaleceu a ideologia socialista e a expandiu pelo mundo.
*Carolina Maria Rui é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical