Infelizmente, a desastrosa privatização do setor elétrico paulista não serviu de lição para os paulistas, que elegeram um governador comprometido com os interesses do mercado e com o seu futuro político. Não por acaso, o governo estadual não mediu esforços para privatizar a maior empresa de saneamento do país, a Sabesp.
Será que o povo paulista vai aceitar passivamente ficar sem luz e sem água? De que adianta o povo bancar, através de impostos, taxas e tributos, as agências reguladoras que mais parecem um escritório de representação das grandes empresas concessionárias de serviços públicos essenciais, se elas servem somente aos donos do capital?
Muito se fala em competitividade empresarial, em qualidade dos serviços, no atendimento correto dos consumidores, tarifas justas, proteção ambiental, valorização dos “colaboradores”, mas o real objetivo é lucrar o máximo possível e remunerar os acionistas: o resto fica para depois. Neste contexto, os sindicatos são vistos como obstáculos para a obtenção deste lucro – daí os ataques e as práticas antissindicais.
É muita cara de pau e desrespeito com a inteligência do povo, querer justificar o processo de privatização da Sabesp – uma empresa lucrativa, que atende mais de 28 milhões de consumidores, prestando serviços essenciais como o tratamento da água e o saneamento com competência, apesar do olho grande dos políticos e da iniciativa privada, que primeiro atacam e destroem a empresa, para justificar a sua venda.
Qual a justificativa para entregar a grande empresa que é a Sabesp, para uma empresa chamada Equatorial, cuja única experiência é fornecer água para 300 mil pessoas no Amapá?
Qual a justificativa do governo estadual para a nomeação da Sra. Karla Bertocco como presidente do Conselho de Administração da Sabesp, ocorrida no início do mandato do atual governador, enquanto ela ainda também estava ligada à Equatorial?
Qual a justificativa para a demissão da referida conselheira da empresa Equatorial às vésperas da privatização da Sabesp, sendo que, por uma incrível coincidência, a Equatorial foi a única empresa que fez oferta pela compra de um lote de ações da Sabesp e tornou-se a “dona” desta empresa?
É certo que não existe lei que impeça uma pessoa de fazer parte dos conselhos de administração de mais de uma empresa, mas esta prática é, no mínimo, prejudicial ao desempenho do (a) conselheiro (a), e no caso da Sabesp, é imoral e infantil o governo afirmar que a pessoa em questão foi desligada da Equatorial 7 meses antes do processo de privatização iniciar. Será que ela não foi nomeada somente para modelar, informalmente, todo o processo de entrega da Sabesp?
Neste ano de 2024, novamente teremos eleições. Vamos continuar elegendo negociadores travestidos de gestores públicos e políticos comprometidos apenas com o próprio bolso?
Será que teremos saudades de quando ainda era possível tomar banho frio por que faltava energia? Quando não sair mais água do cano ou a população pagar mais caro pela conta, talvez ela perceba que entrou pelo cano, mais uma vez.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo – STIEESP
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